quarta-feira, maio 11, 2011

FAZER PELA VIDA
Sendo um tempo de crise. Sendo um tempo em que merece a pena ir à luta. Sendo um tempo em que menos as coisas aparecem do nada. Merece a pena pensar no que podemos fazer por nós próprios. Vão lá mais de 50 anos que tendo ido pela mão do meu pai visitar o Dr. António Custódio Freitas, ele me ofereceu um livrinho e me disse. Faz deste livro o mestre da tua vida. Trata-se de um livro que está à venda por 5 euros e que vos recomendo vivamente. Deixo as impressões sobre esse livro a um jornalista do Expresso que sobre ele escreveu.
“Expresso: 13-09-2003)
O leitor João Arzileiro Carvalho, de Lisboa, escreveu-me há alguns meses a perguntar: «Como surgiu a expressão ‘Levar uma carta a Garcia’?» Só agora respondo, pois demorei muito tempo a reencontrar um livro que tinha lido há anos e que se intitula, precisamente, Uma Carta para Garcia.
Trata-se apenas de um folheto, escrito em 1899 pelo jornalista e escritor norteamericano Elbert Hubbard (1856-1915) e editado em português pela «Seara Nova», em 1963. O seu autor é relativamente desconhecido entre nós, mas a Amazon lista 43 obras suas ainda à venda e muitas outras esgotadas. O Google encontra 36 mil sítios da Internet com referências a esse autor.
Uma Carta para Garcia («A Message to Garcia») foi o maior êxito literário de Hubbard. Imprimiu mais de 40 milhões de exemplares e foi traduzido em dezenas de idiomas. Contava apenas uma história de profissionalismo, mas fazia-o tão bem que inspirou muitas gerações de leitores. O episódio é simples e vale a pena relembrá-lo.
«Quando rebentou a guerra entre Espanha e os Estados Unidos», começa Hubbard referindo-se à guerra de 1898, «era necessário entrar rapidamente em comunicação com o chefe dos insurrectos cubanos. O general Garcia encontrava-se nas montanhas agrestes de Cuba - ninguém sabia onde. (em o correio nem o telégrafo o poderiam alcançar. O Presidente dos Estados Unidos tinha de
assegurar, com a maior urgência, a sua cooperação».
Nessa altura, o Presidente McKinley encarregou um jovem militar chamado Rowan de entregar uma carta ao general. Quatro dias depois, Rowan «desembarcou, de noite, num pequeno barco, na costa de Cuba e internou-se no mato. Ao cabo de três semanas saiu pelo outro lado da ilha, depois de ter atravessado a pé um país
hostil e de ter entregue a carta a Garcia».
A história desta viagem é certamente interessante, mas Hubbard diz que não é relatá-la que pretende. «O que desejo sublinhar é isto: o Presidente Mac Kinley deu uma carta a Rowan para a entregar a Garcia. Rowan pegou na carta e não perguntou: ‘Onde é que ele se encontra?’»
«Ora aí está um homem cuja figura devia ser esculpida em bronze», diz Hubbard. E explica, por contraste: «Experimente o leitor: está sentado no seu escritório e tem seis empregados à sua disposição. Chame qualquer deles e diga-lhe:
‘Faça o favor de consultar uma enciclopédia e escrever uma nota breve sobre a vida de Correggio’ (...) Julga que ele irá, sem demora, cumprir a tarefa? Nunca.
Olhará para o leitor com olhos desanimados e fará uma série de perguntas: Quem foi Correggio? Que enciclopédia hei-de usar? Onde está a enciclopédia? Não foi para isto que me empregaram! Não quererá dizer Bismark? Por que não é o Carlos que o escreve? Já morreu? Há pressa? Não será melhor que lhe traga o livro para ver? Para que quer a nota?»
Estes curtos extractos são o suficiente para perceber a tese do livrinho de Hubbard e para tornar clara a origem e o significado da expressão «levar a carta a Garcia». Mas vale a pena ler o texto original, o que se pode hoje fazer «online», nomeadamente em hermstrom.tripod.com/garcia.html.
Quem se interesse pela cultura científica achará graça à primeira frase do texto de Hubbard: «Um homem destaca-se no horizonte da minha memória como Marte no periélio...» Passadas duas semanas sobre o extraordinário brilho do planeta na sua oposição de periélio, a coincidência é mais que curiosa. Até para ler um panfleto jornalístico, velho de mais de 100 anos, é útil perceber um pouco de astronomia.
Nuno Crato.”

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