quinta-feira, julho 10, 2014


TEMPO DE MIM

Acompanho com alguma regularidade os escritos de Luís Osório, na revista “Tabu” do jornal “O Sol”. A última crónica que dele li foi sobre o Mário Castrim e a Alice Vieira.

Nos meus tempos de estudante em Lisboa o Mário Castrim era um fétiche meu. Nesse tempo eu comprava o “Diário de Lisboa” e o “República”. No primeiro a crónica de Televisão do Mário era um poço de saber para quem estava à procura do seu espaço próprio no mundo fechado de uma terrinha de província e no bairro de Campo de Ourique. Lia o Mário e percebia o que me tinha escapado a mim, mas não ao seu olhar arguto e descodificador. Depois havia também o “Diário de Lisboa Juvenil” onde tantos jovens despertaram para as letras, tendo vindo a tornar-se mestres da escrita. Também aqui postava o Mário Castrim. Recordo as leituras colectivas que tanta vez fizemos nas mesas do “Meu Café” em que nos ríamos a a bom rir com as insinuações e descobertas do Mário nas suas crónicas sobre a Televisão.

Passados uns tempos acabei por o ver num colóquio organizado pela minha Associação. Então aquele é que era o Homem… E ouvi-o com o mesmo prazer com que o lia. Vem agora o L.O. falar dele e para a importância que teve com a sua companheira Alice, para ajudarem na formação de gerações de jovens do meu tempo. Todos os que o lemos somos mais atentos e analíticos depois de aprendermos com ele. Percebemos que a frase pode ter um duplo efeito. E que a crítica é que constrói o Homem como Ser capaz de evoluir.

Nesta crónica que li e me fez regressar aos tempos da minha impetuosidade juvenil, vem um poema do Mário Castrim quando pressentiu chegar o momento da sua inevitável morte. È um texto só possível a um Homem que viveu como ele. Por inteiro. Transcrevo-o com votos de que vos seja tão útil como para mim é.    

 

Poema de Mário Castrim sobre a sua última vontade

Lágrimas, não. Lágrimas, não.

A sério.

Enfim, não digo que. É natural.

Mas pronto. Adeus,

prazer em conhecer-

-vos. Filhos, sejamos práticos, sadios.

 

Nada de flores. Rigorosamente.

Nem as velas, está bem? Se as

acenderem,

sou homem para me levantar e vir

soprá-las, e cantar os “parabéns”.

 

Não falem baixo: é tarde para segredos.

Conversem, mas de modo que

eu também

oiça, e melhor a grande noite passe.

Peço pouco na hora desprendida:

fique eu em vós apenas como se

tudo não fosse mais que um sonho

bom.

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