TEMPO DE
MIM
Acompanho
com alguma regularidade os escritos de Luís Osório, na revista “Tabu” do jornal
“O Sol”. A última crónica que dele li foi sobre o Mário Castrim e a Alice
Vieira.
Nos meus
tempos de estudante em Lisboa o Mário Castrim era um fétiche meu. Nesse tempo
eu comprava o “Diário de Lisboa” e o “República”. No primeiro a crónica de
Televisão do Mário era um poço de saber para quem estava à procura do seu
espaço próprio no mundo fechado de uma terrinha de província e no bairro de
Campo de Ourique. Lia o Mário e percebia o que me tinha escapado a mim, mas não
ao seu olhar arguto e descodificador. Depois havia também o “Diário de Lisboa
Juvenil” onde tantos jovens despertaram para as letras, tendo vindo a tornar-se
mestres da escrita. Também aqui postava o Mário Castrim. Recordo as leituras
colectivas que tanta vez fizemos nas mesas do “Meu Café” em que nos ríamos a a
bom rir com as insinuações e descobertas do Mário nas suas crónicas sobre a
Televisão.
Passados
uns tempos acabei por o ver num colóquio organizado pela minha Associação.
Então aquele é que era o Homem… E ouvi-o com o mesmo prazer com que o lia. Vem
agora o L.O. falar dele e para a importância que teve com a sua companheira
Alice, para ajudarem na formação de gerações de jovens do meu tempo. Todos os
que o lemos somos mais atentos e analíticos depois de aprendermos com ele.
Percebemos que a frase pode ter um duplo efeito. E que a crítica é que constrói
o Homem como Ser capaz de evoluir.
Nesta
crónica que li e me fez regressar aos tempos da minha impetuosidade juvenil, vem
um poema do Mário Castrim quando pressentiu chegar o momento da sua inevitável
morte. È um texto só possível a um Homem que viveu como ele. Por inteiro. Transcrevo-o
com votos de que vos seja tão útil como para mim é.
Poema de Mário Castrim sobre a sua
última vontade
Lágrimas, não. Lágrimas, não.
A sério.
Enfim, não digo que. É natural.
Mas pronto. Adeus,
prazer em conhecer-
-vos. Filhos, sejamos práticos,
sadios.
Nada de flores. Rigorosamente.
Nem as velas, está bem? Se as
acenderem,
sou homem para me levantar e vir
soprá-las, e cantar os “parabéns”.
Não falem baixo: é tarde para
segredos.
Conversem, mas de modo que
eu também
oiça, e melhor a grande noite passe.
Peço pouco na hora desprendida:
fique eu em vós apenas como se
tudo não fosse mais que um sonho
bom.
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