ONTEM BRILHOU O SOL
…de infância na minha rua. Encontrámo-nos três dos seus antigos residentes. Eu, o Toninho a quem chamávamos o “Roncolho” pelo som característico da sua voz e a Maria da Boa Viagem. Registei para a eternidade o abraço entre eles dois. Entre portas, sorri a D. Lélé mais velha uns anos que nós, como que abençoando aquele encontro. Na minha velha rua sobejo eu, o Toninho e a D. Helena Salvador.Todos os que lé hoje residem são posteriores a nós.
Aproveito este feliz encontro para ir buscar ao meu álbum de escritos, um texto que retrata precisamente a Maria da Boa Viagem e que para os que ainda não o conhecem, é um fresco sobre esta mulher magnifica que vem de vez em quando ao meu encontro por entre as memórias que retenho.
…de infância na minha rua. Encontrámo-nos três dos seus antigos residentes. Eu, o Toninho a quem chamávamos o “Roncolho” pelo som característico da sua voz e a Maria da Boa Viagem. Registei para a eternidade o abraço entre eles dois. Entre portas, sorri a D. Lélé mais velha uns anos que nós, como que abençoando aquele encontro. Na minha velha rua sobejo eu, o Toninho e a D. Helena Salvador.Todos os que lé hoje residem são posteriores a nós.
Aproveito este feliz encontro para ir buscar ao meu álbum de escritos, um texto que retrata precisamente a Maria da Boa Viagem e que para os que ainda não o conhecem, é um fresco sobre esta mulher magnifica que vem de vez em quando ao meu encontro por entre as memórias que retenho.
A Maria da Boa Viagem
Um destes dias tonei a vê-la. À Maria da Boa Viagem. Como é que eu a posso descrever para que me percebam. Vivia n` minha rua. A dois passos de mim. Morava numa casa com um quintal, onde também morava a mãe do Quinzico e ele próprio. A Maria da Boa Viagem era daquelas raparigas que enche uma rua. De alegria e de esperança. Jogava à “Banca”, mas também dava uma perninha no futebol. Ninguém que se metesse com ela ia sem troco. Fosse verbal ou ao estalo. E quando a mão falhava, havia sempre por perto uma pedra ou um bocado de pau.
A Maria da Boa Viagem é uma memória do nosso passado colectivo, quando a bola de trapos ou feita de bexiga de porco era rainha das ruas. E fugíamos como o “diabo da cruz” do Coelho e do Carocé (policiais dos velhos tempos).
Quando os médões eram cenário de jogos de capa e espada. E as ruas eram poucas para os jogos de polícias e ladrões. Quando os jogos eram no Alto da Vela na adivinhação na linha do horizonte, do barco que se aproximava, pela forma mais ou menos bojuda, pelo tipo do mastro ou até pela maneira como se fazia às ondas e as cortava.
A rua nesse tempo era uma escola de criatividade, onde o jogo do “virinhas” ou do “botão” eram uma preciosidade no desenvolvimento da “psicomotricidade fina”. Nome esquisito que os técnicos inventaram para distinguir os espertos e ladinos dos que perdiam sempre botões e “abafadores”. Como eu. Tempo das corridas com carros de cana e de rodas de cortiça. Tempo dos jogos de “Batos”, aqueles seixos redondos e lisos da praia do Porto de Areia que a Maria da Boa Vigem e as outras raparigas jogavam com maestria e com tal velocidade que nos punham os olhos tortos.
A rua nesse tempo era o império das crianças. Nela todos aprendemos melhor ou pior a defendermo-nos, a sermos inventivos e desenrascados. E protegidos. Havia sempre alguém por perto que nos conhecia e aos nossos Pais e sabíamos que os excessos chegariam sempre ao seu conhecimento. A rua era um tempo em que as palavras vizinho ou vizinha fazia sentido, porque era sinónimo de solidariedade e de sociabilização.
Na rua a Maria da Boa Viagem era rainha. Ou princesa dada a idade. Era uma líder. Era uma referência.
E ao rever a Maria da Boa Viagem que hoje não sei onde mora, todo esse tempo me veio à memória. Gritámos um para o outro a alegria de nos revermos. Dois beijos da velha amizade foram trocados. Ela e eu falámos das nossas idades. Do meu irmão que ela há anos que não vê. Falámos das varizes dela e da minha “barriga de mestre”. Despedimo-nos sem garantias de nos vermos nos próximos tempos. Mas com a certeza de que a nossa RUA mereceu a pena. Até lá, até sempre Maria da Boa Viagem. Nome de santa que não foste e de Festa que foste.
Menina e Mulher do meu tempo. E da minha rua. Que tem tanto para contar. Assim vá tendo eu memória e talento para poder recordar.
Um destes dias tonei a vê-la. À Maria da Boa Viagem. Como é que eu a posso descrever para que me percebam. Vivia n` minha rua. A dois passos de mim. Morava numa casa com um quintal, onde também morava a mãe do Quinzico e ele próprio. A Maria da Boa Viagem era daquelas raparigas que enche uma rua. De alegria e de esperança. Jogava à “Banca”, mas também dava uma perninha no futebol. Ninguém que se metesse com ela ia sem troco. Fosse verbal ou ao estalo. E quando a mão falhava, havia sempre por perto uma pedra ou um bocado de pau.
A Maria da Boa Viagem é uma memória do nosso passado colectivo, quando a bola de trapos ou feita de bexiga de porco era rainha das ruas. E fugíamos como o “diabo da cruz” do Coelho e do Carocé (policiais dos velhos tempos).
Quando os médões eram cenário de jogos de capa e espada. E as ruas eram poucas para os jogos de polícias e ladrões. Quando os jogos eram no Alto da Vela na adivinhação na linha do horizonte, do barco que se aproximava, pela forma mais ou menos bojuda, pelo tipo do mastro ou até pela maneira como se fazia às ondas e as cortava.
A rua nesse tempo era uma escola de criatividade, onde o jogo do “virinhas” ou do “botão” eram uma preciosidade no desenvolvimento da “psicomotricidade fina”. Nome esquisito que os técnicos inventaram para distinguir os espertos e ladinos dos que perdiam sempre botões e “abafadores”. Como eu. Tempo das corridas com carros de cana e de rodas de cortiça. Tempo dos jogos de “Batos”, aqueles seixos redondos e lisos da praia do Porto de Areia que a Maria da Boa Vigem e as outras raparigas jogavam com maestria e com tal velocidade que nos punham os olhos tortos.
A rua nesse tempo era o império das crianças. Nela todos aprendemos melhor ou pior a defendermo-nos, a sermos inventivos e desenrascados. E protegidos. Havia sempre alguém por perto que nos conhecia e aos nossos Pais e sabíamos que os excessos chegariam sempre ao seu conhecimento. A rua era um tempo em que as palavras vizinho ou vizinha fazia sentido, porque era sinónimo de solidariedade e de sociabilização.
Na rua a Maria da Boa Viagem era rainha. Ou princesa dada a idade. Era uma líder. Era uma referência.
E ao rever a Maria da Boa Viagem que hoje não sei onde mora, todo esse tempo me veio à memória. Gritámos um para o outro a alegria de nos revermos. Dois beijos da velha amizade foram trocados. Ela e eu falámos das nossas idades. Do meu irmão que ela há anos que não vê. Falámos das varizes dela e da minha “barriga de mestre”. Despedimo-nos sem garantias de nos vermos nos próximos tempos. Mas com a certeza de que a nossa RUA mereceu a pena. Até lá, até sempre Maria da Boa Viagem. Nome de santa que não foste e de Festa que foste.
Menina e Mulher do meu tempo. E da minha rua. Que tem tanto para contar. Assim vá tendo eu memória e talento para poder recordar.
1 comentário:
Quando nao se fala em politica ainda sabemos dizer algumas coisas e bem
Peco ao meu Deus para que a sua barriga o deixe escrever assim por muitos anos .
Cumprimentos
Manuel Joaquim Lenardo
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