quarta-feira, abril 07, 2010

A ARTE NÃO É INÓCUA










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Quem vir estas esculturas, vai admirar a conceptualização e a destreza do Artista. Sentimos ternura e espanto por haver quem consegue executar tais peças. Estas “pics” fizeram-me recordar uma exposição de trabalhos de alunos da escola onde fiz o estágio profissional em 1976.
Na altura havia uma moda que atravessava os professores de Trabalhos Manuais do Norte ao Sul do País e que era a de colagem com sementes, arroz, massas, etc, executando-se assim figuras mais ou menos elaboradas e algumas (as mais vistosas) até pintadas eram, levando ao extremo o figurismo nos trabalhos.
Eu com os meus alunos participamos nessa exposição da escola e tive a particular oportunidade de assistir a uma cena que ainda hoje me deixa um certo formigueiro no estômago. Estava eu em conversa com alguns alunos e ouvi um burburinho fora do vulgar numa das salas adjacentes àquela em que me encontrava. Fomos ver e disseram-nos que um professor muito conhecido em Coimbra estava a comer trabalhos de alguns alunos. Estavam todos perplexos. O Professor era inquestionável até porque o tínhamos convidado para desenvolver um Colóquio depois da abertura da Exposição sobre “Arte e Criatividade”.
E foi com esse acto que ele iniciou mesmo o seu Colóquio. Dizendo-nos que nem todas as formas de Arte são ingénuas. Ou menos sádicas. E que a criatividade sendo um valor em si mesmo não era aceitável quando utilizava meios em que o Homem se diminuía. Quando existia uma fome generalizada no Mundo, era completamente absurdo alguém utilizar alimentos que podiam matar a fome a mulheres e crianças, para manifestações artísticas.
Estas coisas aconteciam quando os professores faziam estágios para poderem vir a ser professores. E mesmo quando éramos postos em causa isso servia para vermos para além do óbvio. Tenho a certeza que nunca mais um daqueles colegas que assistiu aquele colóquio, tenha mais alguma vez utilizado alimentos para desenvolver com alunos trabalhos pretensamente artísticos.
Pode admirar-se a capacidade e a criatividade mas teremos de ver para além do “bonitinho” e pensar em quantas crianças poderiam matar a fome com aqueles alimentos.

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