SER MISERÁVEL É UMA OPORTUNIDADE
Texto inspirado nas palavras do Sr. 1º Ministro de Portugal

Para si e para os outros.

Para si porque parte à descoberta do que significa viver com fome e sede de comida e de justiça. Andar nos transportes públicos que são utilizados pelas pessoas que cheiram mal porque não têm dinheiro para pagar a água da companhia. Percebe-se finalmente o que é comer comida fria e vestir roupa amarrotada porque não há dinheiro para pagar luz aos chineses. Olhamos melhor e vemos de vez em quando cair uma lágrima de um rosto de alguém tão miserável como nós porque os filhos só comem a refeição da escola e estão condenados a ter de descobrir formas habilidosas de sobreviver. Aos 40 e poucos anos já não se tem idade para começar num novo emprego e já se é velho para aquele que tem sido o seu ganha-pão. Não se pode revoltar contra a filha que se prostitui nem contra o filho que começou a entrar em assaltos, porque a sua vida não é propriamente nem um exemplo nem um refúgio para quem busca a paz, um abrigo e o pão. Dizem-lhe para procurar outros caminhos, mas se até a construção civil lhe está vedada porque já não há nada em construção. A pesca deixou de existir e até a agricultura só dá para os donos das terras mal tirarem o seu sustento. Inscreveu-se num escritório para ir trabalhar para o estrangeiro, mas quando lá chegou foi fechado numa quinta e obrigado a trabalhar 12 horas por dia e dormia num barracão com mais 30 e tal miseráveis como ele, sem roupa. Nem água, nem luz. Um dia conseguiu fugir e chegar a casa onde encontrou a mulher a viver com alguém que a sustentava mais que ele.

É uma oportunidade para os outros porque podem ir a Fátima rezar pelos que não têm casa, nem pão. Porque podem inscrever-se numa organização de caridade e repartir pelos pobres o que sobeja aos remediados. Podem ganhar o perdão divino distribuindo cabazes pelos mesmos pobres de sempre. Não têm de ensinar a pescar. Têm só de dividir os peixes que estão a mais e distribuir os pedaços pelos pobrezinhos. Se são pobres é porque não trabalham. E nos sacrificamos os nossos momentos de lazer para praticar o bem e lhes dar de comer. Ciganos, pretos, drogados e romenos são uma corja sem eira nem beira que justificam perfeitamente a necessidade do amor ao próximo. E quando aparecemos nas televisões é para que o nosso exemplo frutifique e mais pessoas trabalhem connosco para praticar o bem. Não é porque tenhamos vaidade em aparecer. Nós somos aqueles e aquelas que fazem do bem comum o nosso modo de vida.

Bem hajam as oportunidades que a todos surgiram com as dificuldades que atravessamos.