“TEU NOME”
Ou a felicidade de se ser
surpreendido aos 73 anos de idade
Retomei o
contacto com um velho amigo que saiu de Peniche e foi viver para um concelho
vizinho. Refiro-me ao Lino Sebastião. Há poucos dias trouxe-me em suporte
digital um livro que tem andado a escrever e que agora decidiu dar a conhecer a
algumas pessoas que considera ser um gosto para ele que o conhecessem nesta
faceta. O “Teu Nome” é um livro de poesia que ele designa como lírica.
Aqui estão reunidos alguns dos abanões que senti. O 1º é ver o Lino a escrever
poesia. O 2º é no tempo das redes sociais, escrever poesia lírica. Embora eu
quando cheguei ao fim tenha tido dificuldade em vê-lo exclusivamente como tal. Trata-se
de um livre de humanidades, e é isso que ele aborda. O Eu, o Nós, o Amor e o
trilhar de um caminho cheio de escolhos. A abordagem é feita num sentido de
atingir a plenitude a que o ser humano pode aspirar quando faz uma entrega de si próprio ao Outro. Isso
extravasa a relação de Amor entre o Homem e a Mulher para passar a ser a
capacidade de se entregar. Assim vi eu este livro e o que li.
Embora não
me seja possível transcrever o livro, escolhi alguns dos seus versos que me
revelaram no Autor, o Homem que eu conheci.
Algum dia, qualquer dia
iremos estar inteiros frente a frente…
…E não vou apenas te dizer: - cheguei.
E
reconhecendo a dificuldade da sua afirmação pelo objecto amado diz o que poucos
ousariam:
Ah se eu pudesse! Eu te dizia
a palavra mais bonita
que temos para dizer.
Não posso, mas mesmo não sendo dita
saber bem qual seria
sem o ter de fazer
E num tempo
em que muitos buscam o reconhecimento do ser humano nas suas diferenças, lá vem
mais uma vez a voz de quem há muito o assumiu:
Só concebo a mulher companheira
que traz livre o olhar
e quando a nós se chegar
chegue vertical e inteira
E assume o
autor que já não se sente senhor de si ao afirmar:
Também é límpida a verdade,
Que em nós trazemos a metade
Daquela que em si, de nós, tem a outra
metade.
E sendo que
todos chegamos a uma etapa da vida em que ao olhar para trás se percebe o que
falhou diz o LS:
Amor, trazes-me todo o tempo
um gesto ternura
iluminando o espaço
onde antes apenas existia
a rua mais escura
habitada de silêncio
é então que
o autor reconhece que é tempo de se afirmar na poesia, quando diz:
É necessário que o poema se construa
palavra a palavra, rua a rua, no
silêncio percorrendo
toda a esperança a que me prende
E mesmo que
sinta no ser amado a sua falta
Em vão te espero
apenas sonhando em desespero
me chegas como sempre docemente
a sua
recordação é suficiente para atingir a sublimação da palavra, como em:
Na praia do teu corpo
ardente e leve
fico perdido
sonhando absorto
um sonho embevecido
mas tão breve
Lamento
profundamente só vos poder dar estes breves extractos de um conjunto de poemas
que tal como Natália Correia o diz, são poemas que se fizeram para comer. O Lino
ao fazer-me parte desta sua vertente, trouxe-me a alegria de pensar que conheci
em muitas situações pessoas que de facto fizeram a diferença. Poder dizer que
sou amigo da pessoa que constrói assim o seu legado, é para mim uma alegria e
uma responsabilidade. Que quero transmitir aos que comigo partilham aquilo que
de melhor tem o ser humano.
Obrigado
Sem comentários:
Enviar um comentário