quarta-feira, maio 09, 2018


“TEU NOME”

Ou a felicidade de se ser surpreendido aos 73 anos de idade

Retomei o contacto com um velho amigo que saiu de Peniche e foi viver para um concelho vizinho. Refiro-me ao Lino Sebastião. Há poucos dias trouxe-me em suporte digital um livro que tem andado a escrever e que agora decidiu dar a conhecer a algumas pessoas que considera ser um gosto para ele que o conhecessem nesta faceta. O “Teu Nome” é um livro de poesia que ele designa como lírica. Aqui estão reunidos alguns dos abanões que senti. O 1º é ver o Lino a escrever poesia. O 2º é no tempo das redes sociais, escrever poesia lírica. Embora eu quando cheguei ao fim tenha tido dificuldade em vê-lo exclusivamente como tal. Trata-se de um livre de humanidades, e é isso que ele aborda. O Eu, o Nós, o Amor e o trilhar de um caminho cheio de escolhos. A abordagem é feita num sentido de atingir a plenitude a que o ser humano pode aspirar quando faz  uma entrega de si próprio ao Outro. Isso extravasa a relação de Amor entre o Homem e a Mulher para passar a ser a capacidade de se entregar. Assim vi eu este livro e o que li.

Embora não me seja possível transcrever o livro, escolhi alguns dos seus versos que me revelaram no Autor, o Homem que eu conheci.

Algum dia, qualquer dia

iremos estar inteiros frente a frente…

…E não vou apenas te dizer: - cheguei.

E reconhecendo a dificuldade da sua afirmação pelo objecto amado diz o que poucos ousariam:

Ah se eu pudesse! Eu te dizia

a palavra mais bonita

que temos para dizer.

Não posso, mas mesmo não sendo dita

saber bem qual seria

sem o ter de fazer

E num tempo em que muitos buscam o reconhecimento do ser humano nas suas diferenças, lá vem mais uma vez a voz de quem há muito o assumiu:

Só concebo a mulher companheira

que traz livre o olhar

e quando a nós se chegar

chegue vertical e inteira

E assume o autor que já não se sente senhor de si ao afirmar:

Também é límpida a verdade,

Que em nós trazemos a metade

Daquela que em si, de nós, tem a outra metade.

E sendo que todos chegamos a uma etapa da vida em que ao olhar para trás se percebe o que falhou diz o LS:

Amor, trazes-me todo o tempo

um gesto ternura

iluminando o espaço

onde antes apenas existia

a rua mais escura

habitada de silêncio

é então que o autor reconhece que é tempo de se afirmar na poesia, quando diz:

É necessário que o poema se construa

palavra a palavra, rua a rua, no silêncio percorrendo

toda a esperança a que me prende

E mesmo que sinta no ser amado a sua falta

Em vão te espero

apenas sonhando em desespero

me chegas como sempre docemente

a sua recordação é suficiente para atingir a sublimação da palavra, como em:

Na praia do teu corpo

ardente e leve

fico perdido

sonhando absorto

um sonho embevecido

mas tão breve

Lamento profundamente só vos poder dar estes breves extractos de um conjunto de poemas que tal como Natália Correia o diz, são poemas que se fizeram para comer. O Lino ao fazer-me parte desta sua vertente, trouxe-me a alegria de pensar que conheci em muitas situações pessoas que de facto fizeram a diferença. Poder dizer que sou amigo da pessoa que constrói assim o seu legado, é para mim uma alegria e uma responsabilidade. Que quero transmitir aos que comigo partilham aquilo que de melhor tem o ser humano.

Obrigado

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