sexta-feira, dezembro 22, 2006

As palhas do presépio,
menino de Belém,
são hoje flores e rosas,
amanhã serão fel.
Chorais entre as palhas
de frio que tendes,
meu belo Menino,
e de calor também.
Dormi. Cordeiro Santo,
oh vida, não choreis,
que se o lobo vos ouve,
virá por vós, meu bem.
Dormi entre estas palhas:
bem que frias as vedes,
são hoje flores e rosas,
amanhã serão fel.
As que para abrigar-vos,
macias hoje se vêem
são amanhã espinhos
em coroa cruel.
Mas não quero dizer-vos,
bem que vós o sabeis
palavras de pesar
em dias de prazer.
Que embora grandes dívidas
em palhas cobreis,
são hoje flores e rosas
amanhã serão fel.
Deixai o frágil pranto,
divino Emanuel,
que pér’las entre palhas
perdem-se sem porquê.
Não pense vossa Mãe
que já Jerusalém
prevê as suas dores
e chora com José.
[...]
são hoje flores e rosas
amanhã serão fel.


Lope de Vega (1562-1635)

1 comentário:

Anónimo disse...

Lope de Vega,o astro-rei do Grande Século de Espanha, Pai do Teatro espanhol, espelha neste presépio escrito a ciranda que foi a sua vida, entre mel e fel. Acabou sacerdote e escreveu centenas (!?)de peças de teatro. Não conhecia este poema, entre, certamente, muitos outras.Obrigado. e Parabéns pelo Blog.