sexta-feira, dezembro 29, 2006


A GRANDE INVENTONA

Ao ler as Grandes Opções do Plano e Orçamento para 2007, a pgs 22 no que se refere à "política cultural" sic, leio que um dos temas a desenvolver será a "comemoração do centenário de Luís Correia Peixoto".
Leio mas não acredito. E se considerarmos que Luís Correia Peixoto nasceu a 5 de Outubro de 1907, nesse dia será celebrado o nascimento do "símbolo do homem rico" em Peniche e não a data da implantação da República.
Recordo que aqui em Peniche nos últimos 50 anos, sempre que nos queremos referir ao facto de sermos uns "penduras" dizemos aos nossos amigos: "- achas que eu tenho a fortuna do Luís Correia..."
Bom. Mas o homem podia ser rico e no entanto ser um filantropo. Começo a fazer um esforço de memória e a tentar lembrar-me...
Quando teve barcos fez melhores contratos e mais justos com os pescadores das suas armações? Não.
Proprietário de uma fábrica dividiu lucros com os seus trabalhadores? Criou creches para os filhos das operárias fabris? Atribuíu bolsas de estudo a filhos e filhas dos seus trabalhadores? Com o dinheiro que herdou e fez por aumentar criou alguma fundação para apoiar os seus conterrâneos na doença, nos estudos, em actividades económicas a desenvolver? Porque é que o Xico GazCidla foi pró Canadá? E o Jakim do ferro?
Depois de morrer qual o seu legado a Peniche comparativamente com o de Pedro António Monteiro e o do Arqº Paulino Montez?
Publicou livros? Quantos lhe comprou a Câmara Municipal de Peniche? Quantos mandou entregar nas escolas? Não se lhe reconhecem méritos literários. Como fotógrafo não foi melhor nem pior que tantos outros que ainda são vivos ou já morreram.
O senhor Luís Correia Peixoto tem todo o direito de fazer ou não o que fez. Isso não se discute. Aprendi a respeitá-lo e a ser amigo dele nas cadeiras do café Aviz quando lá ía de pequenino com o meu pai. Mas daí a fazer dele um ícone vai uma distância enorme. Ele não tem culpa.
Tudo isto tem a ver com o facto de ele ter criado uma auréola de simpatizante de esquerda. De "amigo" do PC.
Mas não exageremos. O ridículo tem limites. Se o Luís Correia era um homem de esquerda, então eu sou a Madre Teresa de Calcutá.
Lá que estendam lençóis na Fortaleza para comemorar a fuga do Álvaro Cunhal, compreendo e aplaudo. Foi uma "chapada na cara" de todo o tamanho no Estado Novo e nos seus sicários. Mas fazer do Luís Correia símbolo da luta anti-fascista, é ridicularizar todos quantos de forma séria e coerente foram massacrados, presos e torturados, de todos quantos tiveram que abandonar o país ou foram despedidos dos seus empregos, na luta por um ideal.
Apesar disto acontecer em Peniche, comemorar o centenário do nascimento do Sr. Luís Correia Peixoto não é um erro. É ridículo.















2 comentários:

Anónimo disse...

Mesmo havendo "razões que a própria razão desconhece" não deixa de ser algo de estranho mas talvez explicável pelos promotores.

Anónimo disse...

Isto fez-me lembrar o "ouve lá pá, onde é que tu estavas no 25 d'Abril?"