terça-feira, dezembro 26, 2006

VÉSPERAS NATALÍCIAS COM UM MOLHO ENJOATIVO

Na véspera de Natal tive de ir à farmácia. Por este ano ser domingo tive que procurar a farmácia de Serviço. Quando entrei e tirei a senha de vez, verifiquei que teria de aguardar que fossem atendidas umas 12 pessoas antes de mim. Pressupostamente quem vai a um domingo a uma farmácia, é porque algo de mal ocorre consigo próprio ou com familiares próximos.
Fiquei a pensar nisso enquanto esperava. Nesse mesmo dia à tarde teria de acompanhar o funeral do Necas. Enquanto o conheci, mesmo nos piores momentos, sempre lhe vi um sorriso sereno nos lábios. E uma saudação cheia de ternura. Se a minha mulher ler isto, lá dirá: "-O que é que queres? É gente de Peniche de Cima!". Bom, estava eu neste deambular pelas desgraças alheias, quando sou interrompido pela funcionária que queria abrir o armário dos "bonecos" da chicco.
Uma cliente desse domingo, em que só há uma farmácia de serviço, tinha ido escolher prendas de Natal. Lá fiquei eu e outros desesperados, aguardando que os carrinhos fossem ensaiados, que as músicas fossem tocadas, que os cochichos fossem apertados. Escolhida a prenda, havia que embrulhá-la em papel de oferta.
Todos nós encolhemos nossas dores e doenças mais no fundo de nós mesmos, enquanto aquela "madame" indiferente ao sofrimento alheio, ía para a farmácia do nosso desespero escolher prendas de Natal.
Não sei se aquela senhora teve um Feliz Natal. Provavelmente teve. Mas contribuíu muito generosamente, para que alguns de nós que aguardávamos a nossa vez para sermos atendidos na farmácia da nossa salvação, tivessem pensamentos pouco cristãos naquela manhã da véspera de Natal de 2006.

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