segunda-feira, junho 28, 2010

DEUS E SARAMAGO
“Muitos não o perceberam: a grande acusação que José Saramago faz a Deus é Ele não existir, a não ser criado pelos homens”.
José Manuel dos Santos in “Memorial/Actual/Expresso de 26/06/2010

Vem esta citação que me tocou profundamente, a propósito da Morte do “Jinho” que não posso dizer que me tenha surpreendido, mas que deixou muito abalado.
Já aqui o disse: “Só de pensar que vou morrer, já sinto saudades de mim”. Adoro viver. Adoro ver coisas e pessoas. Adoro comer caracóis. Gosto das sardinhas que este ano ainda não provei. Gosto de ir ao Baleal ao Domingo tomar a bica da manhã com a minha mulher.
Morrer é acabar. É não haver mais nada. Penso como Saramago que é uma pena Deus não existir. Era bom um Deus que fosse o último acto de Justiça para com os seres humanos. Tal como a greve é a “última arma dos trabalhadores”, a existência de Deus seria a derradeira esperança para que tem fome e sede de Justiça.
O que me escandaliza é a atitude dos que afirmando a existência de Deus, a utilizam para o pôr ao seu serviço e ao serviço dos seus desígnios inconfessáveis. Sabem que as suas afirmações de crença lhes abrem as portas para os seus apetites insaciáveis. E que nunca sofrerão as consequências do seu despudor. Por isso afirmo aqui e agora que lamento profundamente que Deus não exista.
Há pois que ser feliz enquanto formos vivos. E que tirar partido das pequenas-grandes vitórias do dia-a-dia. Ontem, quando falava com a minha filha no Skype, a certa altura, ela parou a conversa profundamente carregada de saudades que estava a ter comigo e com a mãe para dizer: “Que linda está a Lua. Grande. Redonda. Alaranjada. Ilumina tudo dando uma grande beleza às coisas”. São os pequenos nadas que nos fazem ser felizes enquanto estamos vivos e que acabam definitivamente com a morte, por mais beleza que saibamos colocar na sua celebração.
Não mais ouvirei a voz do Jinho. Resta-me preservar as suas recordações. Até que um dia também eu faça finito na minha vida. Com uma grande pena minha.

1 comentário:

estrela disse...

Muito belo este comentário!
Revejo-me inteiramente nas tuas palavras...sempre pensei assim.
Viver é maravilhoso...e quando tudo parece perdido encontramos sempre uma razão para viver...um sonho, a beleza dum luar, os filhos...
Um abraço, Belmira Camarão