sexta-feira, junho 25, 2010

E NÃO HÁ QUEM OS CALE
A última (?) campanha a que venho a assistir contra o ME, é sobre a situação de alunos que com o 8º Ano, poderem prestar provas de conhecimentos sobre o 3º Ciclo de escolaridade.
Com 66 anos de idade e quase 40 de serviço em actividades educativas, quer como professor, quer como cidadão, sinto uma revolta imensa por ver e ouvir imbecis perorarem sobre o assunto, como se alguma vez se tivessem preocupado em saber para além do que dizem e em que nos fazem crer que acreditam.
Desde que me conheço sempre existiram provas de exames de fim de ciclo para os alunos que anulavam matrículas ou que se candidatavam na qualidade de auto propostos. O que agora se passa, com uma ou outra nuance não contém qualquer novidade.
Sempre existiram candidatos a prestarem este tipo de provas e sempre me recordo de quase todos ou mesmo todos acabavam por faltar às provas a que se candidatavam. Se pedirem às escolas os números destas candidaturas e quantos a elas se submeteram nos últimos 40 anos, os iluminados que agora falam, teriam que engolir no seu próprio vómito as afirmações que agora fazem.
Recordo algumas que o fizeram aqui na Escola Secundária de Peniche quando aqui fui professor e que não deixaram de ser pessoas de bem por terem tido essa atitude. E recordo um em partícula que em dois anos consecutivos fez o 2º Ciclo e o 3º Ciclo e que hoje é um ilustre licenciado da nossa praça, conceituado e respeitado por todos nós.
Insisto, nem que seja por uma única pessoa. Se deixarmos a porta aberta a que alguém possa prestar provas dos seus saberes mesmo sem ter frequentado de forma regular a escola, estaremos a permitir que surjam portugueses e portuguesas em que merece a pena apostar. Nem que seja só por um.
Nadir Afonso, o conceituado pintor e arquitecto português dizia ontem numa entrevista ao “i” dizia que na escola era um cábula. “Fui um anormalzinho nas disciplinas todas, não entendia nada, não memorizava nada”. A Geometria e a Matemática era “Um craque! No resto sou um analfabeto. Não percebo nada de nada”.
José Saramago que era aluno do Curso de Formação de Serralheiros da Escola Industrial Afonso Domingues, nunca teve uma nota superior a 11 em Português.
São conhecidas as dificuldades de Albert Einstein no ensino regular.
Isto para dizer o quê? Que apostar nas pessoas é o primeiro passo para acreditar num país. Que o saber tem de ser eleito como o 1º objectivo de uma escola é um facto. Mas sem nunca esquecer o 2º objectivo que tem de andar a par deste e que é o primórdio dos valores e da solidariedade.
Mas com isto não se preocupam os imbecis que nos vão paulatinamente destruindo.

1 comentário:

José Carlos Romão disse...

Caro José Maria

Leio assiduamente o seu blog, nunca tendo comentado, mas agora discordo tanto do seu ponto de vista que vou comentar.
Se Saramago hoje é aquilo que é foi pela sua obra nos últimos 25 anos de vida, depois de uma súmula de experiências que fizeram dele o homem que foi.
A escola não serve, no meu entender, para avaliar a genialidade das pessoas, mas somente para as ensinar e avaliar os conhecimentos ensinados na escola. Eu se fosse escrever como Saramago num exame também não passava dos 11. Por esse ponto de vista também me podia por a inventar palavras k era so pk s e prontes n tem k ser td msm nos coisos e... a professora que não me desse má nota que isto é estilo coloquial.
Quanto às provas, permitir que alunos fiquem com o 9º ano apenas passando com Português e Matemática, é um erro crasso, pois está a desvalorizar áreas importantíssimas da cultura à ciência, que farão deles seres capazes de se relacionarem com o mundo exterior e não serem só daquela espécie que diz que médicos, engenheiros, políticos é tudo uma cambada de ladrões e interesseiros, só porque quem diz isso está abaixo deles todos porque nunca se esforçou para alcançar algo na vida.
Daqui a pouco tempo ter o 9º ano ou não será exactamente o mesmo, basta pensar que hoje ter uma licenciatura já não significa quase nada.
Repare-se que o analfabetismo está a diminuir, sim, toda a gente sabe ler, mas quase ninguém lê.
É por isso urgente dar novos rumos à educação e admitir que se há quem não faça o 9º ano é porque não se dá ao trabalho de pegar num livro antes de um teste, e a grande maioria dos alunos não o faz. E cada vez o farão menos.