quinta-feira, julho 29, 2010

40 ANOS DEPOIS (este texto é um exercício de estilo e como tal deve ser lido)
Em 27 de Julho de 1970 eu tinha 26 anos e estava a terminar o meu primeiro ano lectivo como professor na Escola Industrial e Comercial de Peniche. A 10 de Agosto terminariam os exames de aptidão profissional e a partir dessa data eu estava de novo sem emprego e sem vencimento à mercê da boa vontade de algum director que me quisesse contratar.
Nessa altura eu estava a atravessar um período difícil da minha vida pessoal. Em Peniche estávamos ocupados com a instalação da Húmus e com o reinício de uma nova etapa político-social.
Nesse dia 27 de Julho fomos confrontados com uma nova realidade que se abria para os portugueses, ao sermos informados que o Salazar tinha morrido.O que julgamos impossível de concretizar tinha finalmente ocorrido. O velho das botas tinha “batido” as ditas cujas. É verdade que o velho “sacrista” há muito que estava mais para lá do que para cá. Segundo se contava entre o pessoal bem colocado no conhecimento das coisas públicas, o velho há muito tempo que nem sabia que estava vivo. Tinham montado um “teatro” à sua volta em que ele reunia com antigos ministros do regime do Estado Novo, para não se aperceber que já tinha sido substituído pelo Caetano. As “beatas” continuavam a rezar pelas suas melhores, embora o velhaco do ti Tóino há muito que se estava se estava borrifando para a Religião, para os padrecas e para as freiras.
Naquele dia 27 de Julho de 1970 julgávamos nós, pobres ingénuos, que o milagre do despertar dos mágicos se realizaria e que uma lufada de ar fresco entraria pelo país adentro enquanto o espírito do velho asceta iria mandar prender o demo, nomear os diabinhos para a sua polícia política pessoal, enquanto o Diabo se veria obrigado a pedir asilo no purgatório.
Ainda tivemos que esperar mais quatro anos para se poder cantar loas à Liberdade. Enquanto isso o ex-residente de S. Bento aguardou 40 anos para se começar a rir e a contar anedotas ao Silva Pais e ao Henrique Tenreiro sobre as ilusões deste povo cusco e desordeiro. Enquanto isso também a mim por vezes me apetece o seu regresso, para ao menos ver o Paulinho das Feiras e outros que tais com residência permanente na Fortaleza de Peniche.

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