quinta-feira, julho 22, 2010

UM RAIO DE SOL
Como é habitual eu estava a dar o passeio da tarde com o meu cão. Em boa verdade é difícil perceber por vezes quem passeia quem. Mas os meus gestos e passadas são já automáticos naquele deambular de meia-tarde a não ser que algum facto insólito perturbe a boa harmonia que se estabelece entre mim e o Ben.
Foi o que aconteceu naquele dia. Vi sair dum café um senhor de idade muito avançada apoiado em duas bengalas. A perna direita estava toda coberta por uma ligadura. Sobre o olho direito um penso sugeria que ele teria caído e se teria ferido. O que me chamou mais a atenção foi o facto de eu o conhecer e de não esperar vê-lo num estado de saúde tão fragilizada. Nos primórdios do GDP chegou a alinhar com as suas cores. Hoje não é mais que um farrapo.
Pensei em ajudá-lo a descer o passeio para atravessar na rua. Mas ao mesmo tempo o cão puxava-me e tive dúvidas se o meu acompanhante o faria de bom agrado ou se iria resmungar e mesmo abrir o dente a tão incómodo serviço.
Estava eu neste entre-ir-e-não-ir quando vi aproximar-se um rapaz ucraniano que há uns anos está a trabalhar em Peniche. O velhote em questão é seu senhorio. Ele deve ter visto as dificuldades que ele enfrentava e deslocou-se da casa onde habita a uns cerca de 200m e veio ajudá-lo a caminhar até casa.
Senti-me extremamente comovido. Quando uma certa xenofobia se vai instalando entre nós, aquele rapaz com um gesto de bondade extrema ajudou-me a reconstruir a minha fé na humanidade. Foi mais uma lição de ajuda fraterna que recebi como uma bofetada. Faz bem percebermos que existem em todos os quadrantes pessoas que levam a fraternidade até ao sublime.
Nestes últimos dias tem sido mais fácil para mim deitar para o caixote do lixo os inúmeros mails que recebo que pretensamente são de humor, mas mais não fazem que difundir uma ideia de segregação que já deveria estar abolida há muitos anos.

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