CIGANOS As recentes atitudes do Presidente Francês e toda a polémica que lhe tem andado associada são assuntos que merecem a minha reflexão.
Começo por dizer que tenho um grande carinho e respeito pela Cultura e Nação Francesas. Mas ao longo dos tempos a França também nos ofereceu exemplos de uma grande intolerância. E se somos herdeiros da Revolução Francesa, também recebemos outros legados menos felizes.
Neste momento de grande dificuldade para a França (como para a grande maioria dos países europeus) desviar as atenções das culpas próprias e focá-las em quem por cultura e hábitos não se pode defender, parece ser a solução.
Mais grave que a posição do presidente francês, useiro e vezeiro em atitudes “parolas”, é a conivência dos que o rodeiam e a do povo francês em geral.
Sempre existiram razões para odiar os ciganos. Vivem uma vida sem compromissos com a sociedade. São independentes e ciosos da sua cultura e hábitos. Não se integram. Não aceitam compromissos. São como os gatos: - Recolhem os benefícios sem alguma vez sentirem obrigações para quem os beneficia.
Por estas ou outras razões, calhou agora aos ciganos, como anteriormente já tinha calhado aos negros e aos judeus, aos Luteranos e aos anglicanos, sofrerem a sanha persecutória dos que descarregam nas minorias as suas frustrações e incompetências.
Assusta-me mais ainda os comentários que ouço nas ruas e nos estabelecimentos sobre o mérito de tais iniciativas. Também aqui em Portugal e particularmente em Peniche se fala dos ciganos como se se tratasse de uma doença. Como também se tem falado dos cabo-verdianos, dos drogados e dos brasileiros. Aqui em Peniche ainda temos outra raça a evitar: - a dos nazarenos!
A raiva pela nossa incapacidade de ultrapassar as nossas insuficiências tolda-nos o espírito e impede-nos de ver a floresta por detrás da árvore. O que é o argumento fácil torna-se o centro das nossas convicções. E a panaceia para estes males está no que é também mais fácil. Afasta-se do nosso convívio o “veneno”, convictos que assim nos separamos da peçonha. Em nome deste argumento se tentou a raça ariana como solução. Esquecemos que em nós está a solução para o que nos aflige. Exilar para os Farilhões e Estelas o que nos aborrece será só adiar o momento em que somos nós mesmos que já não nos podemos ver ao espelho.
Qual é a solução? Não sei. É difícil. Mas se nos juntarmos com os interessados encontramos se calhar um misterioso “ovo de colombo” que ainda não nos tinha ocorrido.
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