1 DE SETEMBRO
(para a São Jeremias)
Ao longo de muitos anos esta foi a data que determinava toda a minha vida durante mais de 10 meses. Era o dia de apresentação dos professores nas escolas onde durante mais de 15 anos desempenhei funções directivas.
Neste dia já eu tinha planificado todo o ano escolar, programado a minha actividade ao dia, concebido planos de intervenção junto da comunidade local e educativa objectivando medidas de intervenção que colmatassem eventuais desvios na acção.
Isto significava que as minhas férias teriam ocorrido em Agosto durante 10 dias úteis o que significava 2 semanas “tout-court”. Durante muitos anos o Estado ficou a dever-me muitos dias de férias nunca gozadas que também nunca reclamei. Preferia ter menos férias e preparar-me para mais um ano de trabalho, que ter mais dias de férias e um ano lectivo cheio de complicações e onde tudo era imprevisto ou corria ao sabor de vontades de momento ou de impulsos vindos de toda a parte.
Professores e alunos sabiam o que seria a sua vida profissional, não havendo lugar a improvisos. É que uma escola sendo uma micro amostragem da sociedade em que vivemos, está sempre a entrar no caos quando os seus intervenientes não têm marcadas as linhas de força da sua actuação.
Tenho em relação a esses tempos uma ideia clara: - As coisas só não funcionam quando o que lhes está associado é deixado ao sabor do improviso.
Entre 1 e 20 de Setembro preparávamos reuniões, material didáctico, acções de Formação (normalmente sobre avaliação de alunos), reuniões de Conselhos de Grupo e Pedagógicos onde discutíamos e aprovávamos a Recepção aos alunos e as propostas para o Ano Escolar.
Em 20 e 21 de Setembro recebíamos os alunos e depois (re)começava a labuta que todos os anos se repetia. Se tenho saudades desse tempo? Não. Porque está vivido e sinto que cumpri o meu dever. Mais do que isso, trabalhei no que gostava. Adorava o meu trabalho. Ficou feito, ponto final. Ando na rua de cabeça erguida e tenho consciência que a minha passagem nas escolas onde trabalhei deixou marcas. Isso me satisfaz.
Recuso-me a aceitar a posição daqueles que ao menor sinal de dificuldades, pedem a passagem à reforma, porque têm muitos papéis para preencher, os alunos estão insuportáveis, os pais são difíceis e não gostam do tom do cabelo da Ministra da Educação.
Essas coisas estudam-se e preparam-se. Em vez de greves tomem-se posições adultas de medidas que não sejam possíveis de serem postas em causa. Provem que se uma medida não está correcta, a que propõem é mais eficaz. Somos todos pessoas inteligentes. Comportemo-nos como tal. E façamos do dia 1 de Setembro uma festa para a nossa actividade.
Afinal, andar a lavrar e a semear, tratar dos campos em flor e ver fauna e flora desaparecer num incêndio deve ser bem mais doloroso que ser professor numa qualquer escola.
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