quinta-feira, setembro 12, 2013

ENA PÁ! QUE CHEIRO A PEIXE...

Acordei hoje às 7 da manhã e fui para a rua passear com o cão. O velho cheiro a guano que me acompanhou durante décadas tinha regressado às nossas ruas.
Isto permitiu-me regressar aos bons velhos tempos em que os carros da fábrica do guano passavam à porta de casa dos meus pais, carregados de chicharro, chaputa, cavala e outras espécies semelhantes, para virem a ser transformados em guano, quando a apanha superava a capacidade de venda para o exterior, ou para a indústria de transformação.

Este cheiro trouxe-me de volta aos tempos em que as raparigas novas do meu tempo trabalhavam nas fábricas de conservas e acabado o trabalho passavam para casa em frente aos cafés do centro da cidade. Elas não tinham condições de higiene no trabalho com um mínimo de dignidade, e nós que já lhes conhecíamos o mau feitio, não resistíamos a dizer de forma que elas ouvissem: “- Ena pá! Que cheiro a peixe…”. Era certo e sabido que ouvíamos os insultos mais rebuscados que a mente humana ousa imaginar.
Era um tempo em que os mais novos de hoje dificilmente poderão imaginar. Tempo de fome e fartura. Era muito o peixe, mas não tinha preço no mercado. A solução era vender para o guano.
Tempo em que as famílias de Peniche viviam do mar e para o mar. Homens, mulheres e filhos. Poucos escapavam a este ciclo.
Hoje é difícil acreditar em tão poucas soluções de sobrevivência. E este cheiro que então era natural e fazia de Peniche uma cidade conhecida internacionalmente pelo seu mau odor, hoje, é incomodativo e invulgar.

Que este mau cheiro permita ao menos recordar o quanto se tornou diferente nestes últimos 40 ou 50 anos viver em Peniche.

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