sexta-feira, setembro 13, 2013

NATÁLIA CORREIA


Se fosse viva hoje faria 90 anos de idade. Nascida a 13 de Setembro de 1923, veio a falecer em casa com um fulminante ataque cardíaco em 16 de Março de 1993.
Figura marcante das letras portuguesas, influenciou gerações sucessivas de homens do pensamento, da política, das artes em geral. Açoriana, mulher de antes quebrar que torcer, era uma musa num corpo de mulher que detinha o valor da palavra fácil, do impropério repentista, das ideias mais arrojadas que ao longo do seu tempo de vida foi desenvolvida. Adversária do anterior regime, foi sempre solidária com os seus amigos, mesmo que os admoestasse com volúpia.
Conheci Natália Correia através de um amigo de ambos, o José Manuel dos Santos. Algum tempo antes da sua morte fui ao seu bar, templo das ideias, e reconheceu-me passados que eram alguns anos após o nosso último encontro. Dita por ela no Botequim a palavra Peniche, cheirou a mar a tempestades e a sal. Apresentei-lhe a minha mulher e com uma cordialidade inusitada cumprimentou-a e agitando o cigarro colocado na sua longa boquilha, dando-lhe dessa forma livre trânsito para aquele auditório do pensamento.
Foi deputada pelo PPD (era uma amiga do Sá Carneiro e da Snu) e bateu-se pela defesa da cultura e do património e dos direitos das mulheres. É desse tempo um poema que num repente lhe saiu quando se discutia o aborto na AR, quando um deputado do CDS afirmou que as relações entre o homem e a mulher só deveriam existir quando o seu fim fosse a procriação.

Os alarves que agora se instalaram no poder em Portugal teriam da sua parte sempre em riste, o chicote da palavra contra o ódio que manifestam pela humanidade em geral e pelos portugueses em particular.
Deixo aqui o célebre Truca-Truca, em homenagem à mulher, à amiga, à portuguesa e à Açoriana.

Truca-Truca

Já que o coito – diz Morgado –
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou – parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o orgão – diz o ditado –
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.

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