segunda-feira, outubro 29, 2007

O SENHOR JOÃO E O SERVIÇO DE URGÊNCIAS
Conheci-o nos últimos anos deambulando entre o “Café dos Pescadores” e a “Duna” em Peniche de Cima. A pouco e pouco fui sabendo pormenores sobre ele que são importantes para dar sentido ao título de hoje.
O Sr. João foi um dos muitos que o Minó foi trazendo para Peniche e a quem deu emprego ao longo do tempo. Não se lhe conhece família. Ao que parece também trabalhou para o Zé Nicolau (pai). Viveu durante muito tempo num compartimento do pátio da fábrica do Minó. Quando esta faliu e foi vendida passou para uma casita da rua da Piedade, perto da Rua da Alegria. Tem uma reforma de miséria que mal lhe dá para pagar a renda da casa e a comida com que vai subsistindo. Não tem médico de família. Está em lista de espera. As pessoas que o conhecem vão-se preocupando com ele à vez.
Nos últimos dias apareceu a coxear. A actual dona da “Duna” interessou-se pela situação e levou-o ao Hospital. Foi tratado nas Urgências e lá veio para casa. As pernas apresentam feridas recentes e mais antigas que têm tido alguma dificuldade em sararem.
Não se sabe se é diabético ou não. Nem isso foi verificado.
O Sr. João faz parte do grupo dos velhos reformados que vivendo isolados, o melhor que lhe pode acontecer é morrer de repente e sem sofrimento. É daqueles que vivo, só incomoda e chateia. O Estado não quer saber dele e dos outros como ele. Só dá despesa e serve de exemplo sobre a miséria da Assistência Social que temos.
Andam para aí com abaixo assinados espúrios a pedir que as Urgências do Hospital não encerrem à noite, quando existem pessoas sem médico de família. Velhos que vão morrer ao “Deus-dará” sem que quem devia sinta vontade de lhes dar na recta final da sua vida um pouco da dignidade que lhes faltou desde sempre.
O Sr. João deu-me mais uma vez o exemplo daquilo que seria tão mais importante que as forças políticas atendessem quando estão a falar de saúde. Estas “guerrinhas de merda” só servem os politiqueiros. Não interessam ao bem-estar das pessoas.
Se calhar está na altura do Henrique Bertino começar a pensar de em vez de fazer o trabalho que compete a quem tem dinheiro para o fazer, começar a dedicar a sua energia e os fundos da Junta, para actividades de carácter social. O Desemprego vai ainda subir durante mais 2/3 anos. Não interessa de quem é a culpa. Vai ser assim. A miséria vai atingir cada vez mais pessoas. Sobretudo os velhos e órfãos. E vai atingir sobretudo os que têm vergonha de dizer que estão com problemas. As reformas vão ser cada vez mais exíguas para as necessidades das pessoas.
Vamos precisar de ajudar muita gente. Encaminhá-los. Ajudar a desbloquear situações no Centro de Saúde. No Hospital. Junto da Segurança Social. Porque não contratar ainda que temporariamente alguém com formação e sensibilidade nesta área para apoiar os nossos velhos e crianças. EU DISSE ALGUÉM COM SENSIBILIDADE. Estou farto de assistentes sociais que se dizem técnicos e que tratam as pessoas como se fossem matéria-prima. AS PESSOAS SÃO PESSOAS. E precisam de ser tratadas como tal. Ou então deixem-nas morrer ou entregues às boas vontades.