terça-feira, janeiro 24, 2012

LIVRARIA PORTUGAL
Situada no Chiado. No cruzamento entre a rua do Carmo e a que dá acesso ao elevador de Santa Justa. No coração de Lisboa. Resistiu ao grande incêndio mas não resistiu a este terramoto que avassala o país. Vai encerrar. Segundo afirmam os seus sócios não aguentaram a concorrência da FNAC.
A Livraria Portugal faz parte das minhas memórias de um tempo de Lisboa. Por um feliz incidente conheci ali conheci alguns personagens da mitologia das artes portuguesas. Vi ali o Mestre Aquilino. Ali conheci o prof. Virgílio Ferreira e o pintor e poeta Mário Cesariny. Também foi ali que falei a primeira vez com o Eduardo Prado Coelho.
Mas o que mais me marcou na Livraria Portugal foi uma tarde de 1962 em que lá fui procurar uns cadernos de exercícios de matemática. Recordo que tinha subido ao 1º andar onde se eventualmente se encontrava o que eu procurava. De repente ouvi uma grande barulheira na rua. Apitos. Pessoas a gritarem. Fui à janela da varanda. E o que viu deixou-me perplexo. E com as pernas a tremer. Pessoas desciam o Chiado a correr e atrás delas polícias fortemente armados de capacete e cassetetes. Batiam indiscriminadamente. Veio um empregado da livraria ao 1º andar avisar os que lá estávamos para não descermos e não fazermos barulho. Era o 1º de Maio e havia manifestações e polícia por todo o lado na Baixa. Fiquei a ver as correrias durante algum tempo. Um turista de uma nacionalidade qualquer pôs-se a tirar fotografias e levou com um cassetete na cabeça e ficou a sangrar.
Fiquei ali mais de uma hora aguardando que toda aquela barafunda acalmasse. Eu, um pacóvio cidadão de Peniche apanhado pelo acaso no meu 1º tirocínio sobre Polícia de choque e a bondade do Dr. Salazar.
A Livraria Portugal iria ficar marcada para todo o sempre na minha memória por aquele incidente. Sempre que passo na Rua do Carmo não resisto a entrar lá para revisitar os meus fantasmas daquele inicio dos anos 60. Cheiro aqueles livros e compro sempre um qualquer. Quero manter em mim o odor do gosto pelo que gosto. A arte em geral. A literatura em particular. E a Liberdade. No seu mais amplo sentido. Naquele espaço eu vi ao vivo pela primeira vez o que pode a ânsia de poder e de o manter.

1 comentário:

Manuel Leonardo disse...

Ao fim e ao Cabo das Tormentas serao sempre boas recordacoes .
Mas e preciso ter coragem para serem contadas .
Infelizmente agora ha poucos filhos de boa gente ...
Manuel Joaquim Leonardo
Peniche Vancouver Canada