sexta-feira, janeiro 25, 2013

APÁTRIDA
É o que me sinto em Portugal. Sinto que o meu país me detesta, me odiea, não gosta de mim. Sinto que o meu país me rouba. Nas minhas poupanças que amealhei ao longo de muitos anos. Cumpri o serviço militar durante 4 longos anos e dei o melhor de mim mesmo. Fui louvado por 3 vezes pela minha abnegação e pelo entusiasmo colocado no cumprimento do meu dever. Fui professor durante 36 anos e fiz entrega de mim próprio ao serviço público. Orgulho-me do trabalho que desenvolvi nas diversas escolas por onde passei. Nos meus 16 anos como presidente do Conselho Directivo nunca gozei mais que 12 dias de férias. Porque era necessário requisitar vencimentos, requisitar professores, fazer a planificação do ano lectivo seguinte de maneira a que os professores quando chegassem soubessem desde logo o que iria ser a sua vida até Agosto do ano seguinte. Fui professor Cooperante na República da Guiné-bissau e ajudei na feitura das estatísticas do Comissariado das Finanças, na página do Comissariado da educação no Jornal “Nô Pintcha” e na alfabetização dos povos do interior nas equipas de Gilberto Freire.
Colaborei com grupos cooperativistas e de cine-clubes para poder criar condição de pensamentos mais livres. Fui dirigente associativo e nesse âmbito colaborei com equipas da Unesco. Fui autarca. Tenho publicado opiniões sobre as mais diversas matérias no sentido de suscitar uma discussão livre e interventiva.
Em tudo isto que participei e noutras coisas que agora não me ocorrem procurei dar o meu contributo para que o meu país se tornasse possuidor de um sentido critico e humanista , se quiserem na corrente sarteriniana ou de Russel que permitiu o aparecimento de espíritos livres como o de João Paulo II, ou o de Mandela.
De nada me arrependo. Mas abomino que depois de ter visto o “botas” cair da cadeira, o “marcelo” pôr-se na alheta para o Brasil, o gajo do monóculo enterrar-se na farda, o que tenha sobejado é o que temos.

Fomos assaltados por gangs que nos roubam. Que nos tratam como indigentes. Eles que em nada contribuíram para que este país melhorasse, a não ser roubando o erário público. Não gosto do meu país. Definitivamente perdi o sentido de pátria. E quando ouço que regressámos aos mercados, como se fosse eu que tivesse contribuído para lhes vedar esse acesso, quando ouço isso, desejo que os mercados sejam aquilo que o portas visita em campanha eleitoral e que apareçam malhadinhas que à boa maneiro aquiliniana lhe carreguem as costas com varapaus, fazendo com que esse monte de esterco, nunca mais se atreva a aparecer numa feira.
Sou apátrida no meu país e exilado na terra que me viu nascer.

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