sexta-feira, março 12, 2010

O QUE SABEMOS
Os 38 anos que passei pela administração pública (1969/2004) ensinaram-me várias coisas. Vale a pena olhar para trás e pensar nisso num tempo tão difícil como o que vivemos.
Uma das coisas que percebi é que a “cunha” ou a “corrupção”, valido as duas palavras como sinónimo, só é grave e criminosa desde que beneficie os outros, ou os seus filhos, familiares e amigos. Se nos beneficiar a nós ou aos nossos é perfeitamente legítima. Não é mais que utilizar os mesmos meios que os “cães danados” que se utilizam do poder que têm (?) para interferir com a ordem das coisas.
Aprendi também que é em nós que medram as sementes da corrupção. Sempre que a aceitamos quando desenvolvida pelos nossos. Sempre que achamos piada ao “xico-espertismo” de quem a exerce. Etc…etc…
Aprendi que nos nossos maiores amigos pode estar um corrupto em exercício. Que para se governarem ou aos seus não lhes custa nada por em causa a comunidade que servem. Vi gente que eu pensava credível aceitar cargos de responsabilidade para dar de comer gratuitamente a si próprio e aos seus filhos nos refeitórios das instituições que dirigiam.
Vi gente de quem sou amigo e que sempre alardearam convicções no exercício das suas funções, falsificar, mentir, vigarizar subordinados e instituições para arranjarem emprego para os filhos e amigos.
Vi trocar votações favoráveis aos nossos intentos por empregos. Vi ameaçar com ligações aos opositores com votações protestativas se não fossem obtidos os favores almejados.
Vi pares e iguais traírem-se em nome de objectivos de poder mal esclarecidos ou pouco convincentes.
Vi os que elaboram leis serem os autores da descoberta de como se podem tornear para poder validar os nossos actos menos próprios.
Vi escolher para cargos os familiares e amigos em detrimento dos que forem mais competentes.
Mas sei que vale a pena fazer a diferença. Sei que os nossos filhos e os filhos dos nossos filhos podem fazer Portugal cumprir-se. Assim tenhamos a coragem de tomar iniciativas individuais que multiplicando-se se tornem colectivas.
Não acredito em Portugal como nação. Acredito em Portugal como território.

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