SUICÍDIO
Em grandes parangonas os jornais têm vindo a noticiar o suicídio de um professor numa escola do 2º e 3º Ciclos de Sintra, por alegadamente não suportar a violência psicológica que era exercida sobre ele por alunos do 9º ano de escolaridade.
Muito se tem escrito sobre este tema e muito se vai escrever ainda. Sem que no entanto a montante se procurem as razões profundas para esta avalanche de professores que se queixam de serem vitimas de alunos, encarregados de educação e mesmo de outros colegas.
Na primeira vez que um professor chama um funcionário porque não consegue fazer-se respeitar, ou que pede a vinda de um elemento do Conselho Directivo (Director) à sala de aula, ou quando a abandona porque vê caída por terra a sua autoridade, dizia eu que a primeira vez em que qualquer uma destas causas se manifesta, é quando começa o calvário de um professor que nunca mais terá fim. A partir daqui só mudando de escola ou de região, ou mesmo tentando conseguir uma nova profissão ou actividade.
Recordo de situações em que os professores fragilizados por outras situações eram aconselhados por médicos psiquiatras a irem trabalhar para as escolas, porque o trabalho teria um efeito terapêutico.
Recordo pessoas que eram colocadas em escolas por efeito das suas habilitações académicas mas que no contacto com alunos eram um autêntico desastre. Queixavam-se da impiedade dos alunos sem nunca porem em causa a sua prática pedagógica ou a sua impreparação para a utilização de meios didácticos apropriados àqueles alunos, àquela turma, ou naquele meio.
Atirar professores para as escolas sem passarem por um estágio pedagógico exigente e qualificador foi (é) a primeira das razões para a multiplicação de conflitos nas escolas.
As aulas assistidas são um elemento fundamental para a adequação de um licenciado para a prática pedagógica. Não pode ser só depois de este estar ligado ao sistema que deve ser elemento de avaliação. Deve ser à antes deste ser qualificado como professor que a assistência à prática pedagógica, seguida de uma reflexão critica sobre a matéria observada, pode e deve ser elemento qualificador sobre a eventual entrada de um licenciado no sistema de ensino.
O sentido corporativo que se manifesta entre os professores (como noutras profissões) é outro elemento que permite que pessoas menos preparadas possam ser submetidas a momentos difíceis nas escolas. Porque não se há-de negativar determinada pessoa para a prática docente se é verificável desde logo a sua incapacidade para o exercício da actividade e para a sua incapacidade de resposta para situações de conflito em que se encontre envolvido? Nem todos os que terminam uma licenciatura poderão ser professores a desenvolver uma prática pedagógica adequada. Esses terão de ser recusados, pese embora a solidariedade que nos mereçam enquanto professores.
Existem escolas e escolas. Como existem professores e professores.
Os alunos (as crianças) são impiedosos perante os fracos sejam eles colegas, pais, professores ou funcionários a não ser… A não ser que encontrem razões poderosas para os protegerem. São essas razões e a capacidade para as encontrar que permitem distinguir os que estão preparados para serem professores (ou pais) dos que não estão. E existem formas de ajudar a encontrar essas soluções em estágios adequados e actualizados ao tempo em que vivemos e às novas formas de diálogo em que todos nos podemos encontrar na escola como na comunidade.
Penso que mais que nunca hoje se estabelece um novo e aliciante desafio para os que desejem ser professores. Mas tenho a consciência que para ser professor não basta querer. È preciso ser devidamente qualificado e ser capaz de o ser. Cada vez mais ser professor não é uma profissão para todos.
E quanto menos os políticos quiserem fazer das escolas o palco para as suas exibições, (ou os jornalistas para as suas reportagens mediáticas) melhores escolas e mais qualificadas teremos. Há gente em Portugal com qualificações brilhantes para poderem responder a este desafio. Ao tribunais e a Judiciária, não o serão por certo.
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