UMA FLOR
Em 1999 eu estava a trabalhar na Câmara Municipal de Peniche, como vereador a tempo inteiro. Nesse ano o dia 8 de Março, (Dia Internacional da Mulher), calhou a uma 2ª Feira dia de reunião da Câmara Municipal. Na reunião preparatória dessa, em que os elementos do executivo e os assessores políticos mais próximos tomavam decisões sobre diversos assuntos, foi combinado oferecer uma flor a todas as mulheres que trabalhavam na Câmara Municipal.
Assim, na 2ª Feira antes de se iniciar a reunião foi feita uma alusão ao dia e entreguei uma flor às vereadoras do PCP, Dr.ª Margarida Taveira, e outra à vereadora do PSD, Eng.ª Maria João Avelar.Foi quando efectuei a entrega a esta última que recebi com um sorriso um pedido de escusa por a Eng.ª Maria João considerar ultrajante tal prática.
Se bem me lembro das suas palavras da altura, celebrar essa data é um absurdo, pois representa num dia tentar apagar todos os dias em que as mulheres são humilhadas, espezinhadas e tratadas como pessoas inferiores. Enquanto a prática desta celebração existir, significa que a prática quotidiana continua a ser de subalternidade da mulher em relação ao homem. E num dia reafirmamos a intenção de se vir a corrigir essa prática.
Na altura senti-me mal com o que disse a Eng.ª Maria João. Eu era tão bem intencionado no que estava a fazer…
Mas depois parei para olhar e pensar. E cheguei à conclusão de que ela estava certa e eu errado. Este dia 8 de Março, serve para expiar pecados ancestrais e para mais uma vez olhar para o alto e assobiar. É bom para o consumo mas não resolve o que está errado no tratamento da Mulher como par e igual em direitos e deveres.
Recordar este facto que comigo ocorreu serve como expiação pelas minhas atitudes menos dignas.
Aqui deixo o meu cumprimento amigo à Eng.ª Maria João Avelar, sem quaisquer ambiguidades, não para celebrar este dia, mas para o ajudar a desmontar no que ele tem de hipócrita.
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