quarta-feira, março 31, 2010

Só regressarei no próximo dia 5 de Abril. A todos envio daqui votos de umas mini-férias plenas de felicidades na companhia de familiares e amigos.
Em particular para os que estão para lá das nossas fronteiras envio um trecho musical que mão amiga me fez chegar. Que este som gratificante possa ser a dimensão da minha amizade por todos os que me visitam.
http://www.nataliaviolin.com/

terça-feira, março 30, 2010

A GREVE
As greves são um direito inalienável dos trabalhadores. A greve é a arma definitiva dos trabalhadores. Feitas estas afirmações posso ir ao que me interessa.
O que me incomoda não são as greves. Nem as manifestações que normalmente lhes associam. O que me chateia são os pretextos por vezes invocados para fazer greve. E as razões (?) que lhes estão subjacentes.
Ir para a greve porque a entidade patronal avalia os trabalhadores, é o mesmo que assaltar um banco e não dar à polícia o direito de investigar o assalto.
Ir para a greve porque o trabalhador X ganha mais que eu, é considerar que todos os trabalhos são iguais em direitos, deveres, garantias e responsabilidades. E todos sabemos que não são.
Ir para a greve afirmando que aquilo que outra pessoa ganha por ter feito um bom trabalho, dá para pagar as reivindicações dos trabalhadores, é o mesmo que garantir o direito ao assalto à algibeira de quem é bom no que faz e está a ser premiado por isso.
Recordo a ideia expressa no Verão de 1975 que afirmava: “Os ricos que paguem a crise”.
Não aceito que só o ordenado sirva para fazer comparações e que o trabalho que outros desenvolvem não mereça qualquer referência.
Não aceito que durante quarenta minutos tenha tido de suportar nas televisões os enfermeiros do “reviralho”, as unidades de saúde que são encerradas por terem uma média de 2 utentes por dia a utilizá-las, ou o Pinto da Costa e o coitadinho do Hulk que foi injustamente castigado por bater num cidadão pago para fazer a segurança dum recinto desportivo.
Alguma coisa está podre no reino da Dinamarca.

segunda-feira, março 29, 2010

PECados

Quando veio o 25 de Abril e a euforia se instalou, toda a gente considerou ser a hora de cobrar com juros tantos anos de miserabilismo.
As reivindicações passaram a ser sinónimo de adesão ao MFA, ao Socialismo, à Democracia e à Liberdade.
Os ricos que paguem a crise.
Não são precisos armadores para apanhar peixe.
As cooperativas de produção são a solução.
Se eles podem, nós também.
E assim correu o marfim até se chegar à conclusão que anos de mealheiro se tinham desfeito. Foi a vez de pagar com juros a vida fácil e a perda de capacidade na criação de riqueza. Continuamos a ter praia e mar. Continuamos a ser um laboratório de análise para os estudiosos da economia e da sua influência na vida das pessoas.
Como somos um país de esquerda foi sempre o PS encarregado de desmantelar os benefícios da Abrilada. E veio a Reforma Agrária e viram as privatizações. E vieram as devoluções do 13º Mês convertidas em papel higiénico. E vêm agora as devoluções dos benefícios fiscais.
De PEC em PEC desde o pedido de adesão à comunidade europeia aqui vamos nós aguardando que um qualquer professor de Economia de Coimbra queira fazer ressuscitar o Amor Pátrio e em vez da Madeira, tenhamos que contribuir (atingindo os limites) para salvar o que restar de Portugal.
Somos um escarro das sociedades evoluídas e desenvolvidas. O Brasil que se libertou de nós está no caminho dos países mais desenvolvidos do Mundo. Angola por este andar (mesmo que a Democracia não seja a palavra mais interessante que por lá se diz) caminha para um desenvolvimento sem retrocesso.
Resta-nos o sol e o surf.
PS: Isto não representa a apologia de um qualquer partido político em detrimento de nenhum outro. São todos iguais. E lamentavelmente nem para guano servem. Nada medra à sua volta ou ao seu contacto.

sábado, março 27, 2010

quinta-feira, março 25, 2010

FOTOGRAFIAS
Roland Barthes escreveu um livro sobre A Fotografia a que chamou “A Câmara Clara”. É um exercício magistral sobre o que um instante pode revelar.
Ele a certa altura escreve: “Primeiro descobri isto. Aquilo que a Fotografia reproduz até ao infinito só aconteceu uma vez: ela repete mecanicamente o que nunca mais poderá repetir-se existencialmente”.
Veio isto a propósito de eu ter revisitado fotos e de me por a pensar que as pessoas que eu via hoje, estavam fixadas para mim desde o instante em que o fotógrafo apontando-lhes a objectiva as imortalizou para mim.O meu tio-avô José do Rosário Leitão, memoriza na foto a sua paixão (a Tia avó Joana Andrade). Ele fixa-se em alguém e é fixado definitivamente para nós. A sua altivez representa hoje a capacidade de se continuar a impor perante os que o olham.Aqui o Mariano Vicente não esconde um olhar para além de nós. Ele que era poeta e dramaturgo não se fixava em ninguém, via para além dos que fixava. E sente-se na pose o Artista e o dandy. Ele sabe que se vai perpetuar para além da sua própria imagem. São as palavras que melhor o definem. O resto é a aparência que quer deixar de si mesmo.É tempo de reunir a família. A missa acabou. Eu e os meus primos e primas somos a parte que sentados na escadaria de S. Pedro aguarda a sua vez de crescer e poder ficar de pé. Agora só os casamentos vão permitir uma foto destas. A avó “Manca” matriarca da família de minha mãe tem por detrás de si a sua prole. A Tia Avelina estende o seu olhar bondoso para a objectiva (1ª à direita de xaile). A tia Idália segura num amplexo as irmãs que protege mais e onde se protege.

quarta-feira, março 24, 2010

FORTALEZA DE PENICHE/POUSADA DE PENICHE foto: Hélder Blayer
Na “Voz do Mar” de 2019/03/23 li um artigo de opinião escrito por Ademar Vala Marques sobre o assunto em epígrafe. Embora julgue perceber as conotações político-partidárias do autor, não deixei de lhe prestar muita atenção dada a forma extremamente correcta como está escrito.
Também eu perfilho a ideia de que a melhor maneira de preservar aquele espaço é fazendo-o partilhar por algum empreendimento privado de custos muito elevados e que o proteja da devassa e dos exageros de uma utilização sem consequências.
Tornar o espaço da Fortaleza um local de turístico a ser utilizado pela classe alta ou média alta, será provavelmente a melhor forma de proteger o seu espaço museológico referente à Resistência. Porque nem me passa pela cabeça manter por muito mais tempo ali o restante espaço de Museu com os elevados índices de humidade que ali se verificam.
O artigo a que me refiro sugere que o actual executivo não tem sido muito claro sobre o eventual aproveitamento daquele espaço como Pousada. Que parece estar adormecido em relação ao assunto. Ou o que é pior ainda, não manifesta qualquer opinião ou vontade naquela matéria.
Eu sei que o PCP sempre considerou erradamente aquele espaço como “propriedade” sua. Por ali passam muitas memórias do seu passado de luta e têm receio de que seja conspurcado pelos endinheirados. É uma leitura insuficiente de Marx e de Lenine, que nunca desprezaram o dinheiro dos ricos para poder fazer florescer as suas propostas.
E não me passa pela cabeça que no século XXI ainda continuem agarrados a metáforas. A História julga aqueles que não a respeitam. E fugir à responsabilidade de preservar aquele espaço no seu todo é algo que não será perdoado no futuro.

terça-feira, março 23, 2010

A MINHA MENINA
A minha menina terminou a sua licenciatura em Julho do ano passado. Decidiu que o que lhe interessava do ponto de vista pessoal era trabalhar na área para a qual se tinha preparado. O assunto foi discutido em casa após se pesarem prós e contras. Mas quem a conhece (e me conhece) sabe que quando toma uma decisão não há como desviá-la. É assim e acabou.
Foram enviados currículos e mais currículos para tudo quanto era sítio. Portugal onde tirou o curso e Espanha onde estagiou eram os locais apetecidos. Em boa verdade Espanha era mais interessante que o país natal. Na sua área o desenvolvimento tecnológico é mais notório com os “nuestros hermanos”. Por outro lado nada a convencia a ir para um balcão vender material ortoprotésico. Queria trabalho numa oficina já que foi para isso que se preparou. Enquanto as respostas não chegavam foi trabalhar para um “call center” de uma instituição bancária e agarrou-se aos manuais e aos CDs e aí vai de estudar castelhano.No fim de tudo isto a minha menina acabou por receber um convite para fazer a sua apresentação em Espanha. Esteve lá uma semana a fazer prova das suas capacidades e foi convidada a assinar um contrato sem termo certo que acabou por aceitar.
Assim, a minha menina é agora mais uma emigrante nessa imensa diáspora pela qual nos fomos espalhando.
A internet é o nosso contacto e eu e a mãe temos uma grande admiração pela capacidade de persistência e autonomia que demonstrou. Ela sabe que o seu futuro só ela o pode construir e que a luta que agora desenvolve e a firmeza com que enfrenta sozinha um meio de que desconhece tudo, será a única forma de poder olhar para si própria com orgulho e dignidade. Ela está só com o que aprendeu na escola e na vida que viveu até aqui caminhando sem “apoios” que não sejam o carinho que demonstram os que são seus amigos.
Que sejas bem sucedida minha filha nesta encruzilhada tão difícil. Sabe que ao decidires ser operária do teu futuro em construção nada te poderá impedir de ser feliz.

segunda-feira, março 22, 2010

DE NOVO AS ESCOLAS
Uns quantos acontecimentos que apesar de não poderem ser enquadrados num todo, levantaram de novo as vozes dos que fazem das escolas o hemiciclo das suas pretensões políticas.
Vêm uns e dizem que agredir professores deve ser considerado crime público, por comparação da profissão de professor com a de polícia.
Vêm outros e acham que se deve reeditar os Quadros de Honra, de Mérito e de Excelência.
Mas o que consubstancia as dificuldades por onde as escolas passam não é aflorado. Acreditar que o problema das escolas se resolve com polícias e tribunais é não estar preparado para discutir o que ao longo destes anos tem corrido mal. Porque razão fazem os políticos e os diferentes Ministros tábua-rasa da experiência acumulada ao longo dos anos e chegam ao Ministério ou à Assembleia da República e vai de vomitar leis sem saber as consequências do que fazem. E depois as novas reformulações terminam quando chega um novo ministro sem nunca se avaliar o que foi feito.
Não é Ministro quem quer ou quem cobra favores políticos. É Ministro quem tem conhecimentos técnico-cientificos de escolas que o preparam para o ser.
Falam hoje de educação nos sindicatos quem já não entra numa escola a desenvolver prática pedagógica há mais de duas décadas. O que sabe sobre o dia a dia duma escola?
Por outro lado vem o cretino do político com a ideia de premiar os melhores alunos, como se isso fosse um desafio para os restantes quererem ser tão bons alunos como o que consta do Quadro de Honra.
Os líderes numa escola pública nunca são os melhores alunos. São os mais desenrascados. O Quadro de Honra até pode fazer sentido em algumas escolas. Mas não em todas. Deixem que sejam as escolas no âmbito de uma autonomia que nunca lhes deveria ter sido cerceada a definir os seus próprios caminhos.
Deixem as escolas em paz. Reactivem a autonomia das escolas e os Concelhos Directivos eleitos por 5 anos no caso das escolas 2.3 e por 3 anos no caso das escolas Secundárias.
Permitam que as escolas definam as suas regras em projectos Educativos sem a interferência das Direcções Regionais ou do Ministério da Educação. Reactivem o funcionamento das Inspecções pedagógicas e Administrativas que fiscalizem o cumprimento das regras essenciais definidas para o Sistema Educativo. E calem-se e não digam asneiras sindicatos e políticos.
Quanto aos professores pensem que são os alunos que são a razão de receberem ordenado e deixem de os tratar como escumalha ou no mínimo como inimigos.
Vão ver que tudo começa a correr melhor.

domingo, março 21, 2010

COISAS DE NAMORADOS...
A jovem universitária chega ao quarto, despe-se e prepara o duche. A sua colega de quarto repara que ela tem um C decalcado no peito.
-"O Jica, já viu que tem um C decalcado no peito?"
- Pois tenho. E da T-shirt do meu namorado. Anda na Catolica, tá a ver? E não teve tempo de tirar a camisola. com o suor deve ter decalcado...
Tempos mais tarde, a amiga repara noutra letra decalcada no peito da companheira de quarto:
-"Já vi que mudou de namorado!"
- Porquê, querida?
- "Tem outra letra decalcada no peito. Um L!"
- Pois tenho. Eu vou confessar-lhe uma coisa: adoro que eles façam amor comigo de T-shirt vestida. Passo-me completamente. E este é o máximo! É finalista da Lusíada, tá a ver? Dai o L. Que porcaria de tintas que eles usam para imprimir as T-shirts hoje em dia, já viu?
Passa mais um fim-de-semana. Mais uma troca de namorado, mais uma letra decalcada:
-"Lá está você outra vez com letras decalcadas no peito."
- Não me diga! - "Estou-lhe a dizer. Olhe para isso, e um W. Não estou a ver nenhuma Universidade com esse nome. Este seu namorado estuda onde?"
- Na Moderna!

sexta-feira, março 19, 2010

1000 POSTAGENS
Quando a 12 de Novembro de 2006 iniciei este espaço, mal saberia eu que 3 anos e meio depois estaria aqui e que hoje comemoraria o seu número mil.
O “Conversar em Peniche” é um herdeiro em primeira geração do “Peniche Directo” embora um e outro difiram em aspectos essenciais. Um é hipotecado às ideias e valores do seu autor. O outro pretendia-se mais equidistante e menos comprometido.
Ao longo deste tempo todo arrisquei afirmar politicamente o que me movia. Favoreci claramente as 2 últimas campanhas da CDU em detrimento do PSD e do PS. No caso deste último partido não hesitei em ser claramente hostil quanto às suas escolhas em Peniche a nível autárquico.
Não poupei gregos e troianos no que considerei ser correcto. Valorizei os aspectos que quer do ponto de vista ético, quer do ponto de vista social e político me pareceram dignos de aplauso.
Escrevi memórias e histórias de encantar. Enumerei livros e coisas escritas por outros que me pareceram relevantes para me (nos) ajudarem a crescer como pessoas.
Disse disparates. Cometi erros.
Mas o que fiz bem e o que fiz mal pesam para me avaliar como pessoa e para suscitar a discussão. Que nem sempre foi leal e honesta. Como autor do Blog nunca respondi às críticas e nunca desfiz equívocos. Ao que escrevi replicaram sempre no tom que quiseram e da forma que consideraram mais acutilante. Sem que eu me tenha defendido. O que me defende é o conjunto desta actividade no seu todo.
Onde não gostei foi dos que cobriram de anonimato. Odeio mascarados de cara tapada. Mas isso está na massa do sangue deste povo singular.
Interrogo-me sobre o tempo que resistirei a esta prova de fogo. Quantas mais postagens terei engenho e arte para escrever. E quantas continuarão a ter o mesmo grau de empenho… Não quero arrastar-me por aí. Nem ser redundante. A seu tempo darei espaço a outros com mais genica que eu para ajudarem a “conversar”. Tal como rir, conversar é o melhor remédio. Assim o façamos com dignidade.
A todos um grande abraço e até amanhã.

quinta-feira, março 18, 2010

SER SOLIDÁRIO
Sinto uma grande empatia pelos seres humanos em situação de sofrimento ou de perda. Mas tenho uma grande dificuldade em participar em campanhas a favor de pessoas que me são distantes. Nas últimas semanas foram inúmeras as iniciativas desenvolvidas a favor do Haiti e da Madeira. Não me senti motivado por nenhuma delas. Depois, habituei-me às atitudes miserabilistas com que as televisões expõem os dramas individuais. E nunca sei onde começa o drama pessoal ou a teatralização da dor.
Penso sempre que ao meu lado, no meu prédio, na minha rua, na zona em que moro estão pessoas que conheço e que precisam daquilo que estou a enviar por um percurso que nunca poderei acompanhar.
Recordo campanhas em que participei e de que me arrependi. Recordo gente que é capaz fazer de si próprio uma chaga, quando outros sofrem sem que se lhes ouça um lamento.
Não sei se estou a ser injusto. Provavelmente estou. Sou solidário com os meus amigos. Ou com quem vive na minha terra e se cruza comigo todos os dias. Mesmo que eu saiba que é um grande malandro. Prefiro repartir com os meus malandros que com os malandros que não conheço.

quarta-feira, março 17, 2010

terça-feira, março 16, 2010

Oh PSD que já foste
Oh PSD que já não és
Oh PSD que estás voltado
Da cabeça para os pés
(quadra popular adaptada)

Raramente se conjugaram tantas pessoas notáveis (digo isto sem qualquer ironia) para apoiar um partido em busca de si próprio. De todos os antigos presidentes do partido vivos, só Cavaco Silva não foi lá dizer de sua justiça. Mas faço ideia da vontade que ele teve de ir sacudir aquela gente para ver se a acorda. Eu como qualquer cidadão atento às coisas da política, vi, li e ouvi o que por lá se foi passando.
O PSD que ao longo dos tempos da democracia pós 25 de Abril, tem sido um partido de poder e de capacidade de intervenção, tem vindo a perder influência junto dos eleitores e pior que isso, não se consegue afirmar como alternativa ao partido do governo.
Eu como muitos outros cidadãos gostaríamos de poder acreditar que o PSD pode ser melhor que o PS. Mas ninguém minimamente atento pode conseguir ver isso neste PSD e nestes militantes que agora disputam o campeonato dos últimos.
Bem falaram o professor Marcelo e o “pequenino” Marques Mendes sobre o que era importante e o que era acessório. No fim tivemos excesso do acessório e pouco importante foi o que se decidiu.
Mais uma vez o cidadão comum foi alertado para as razões que tornam os partidos pouco apetecíveis e de uma desonestidade intelectual total. Ficámos a saber nas entrelinhas ou mesmo no que foi dito e aprovado que só é ingénuo e vota nesta gente quem é igual a eles. E isto que se passou no PSD é igualzinho sem tirar nem pôr ao que se passa em todos os outros partidos políticos. O que vale é eles se denunciam uns aos outros, ficando nós a perceber o que são e o que querem. Vale o tráfico de influências e a capacidade de oferecer as pequenas partes do bolo nacional.
Deste congresso do PSD fiquei a saber 3 coisas muito importantes:
- Que os candidatos a presidentes do partido têm as suas claques estrategicamente colocadas na sala do congresso para baterem palmas às intervenções dos seus putativos chefes. Essas palmas são negociáveis em lugares das listas nacionais das Juventudes partidárias, para as câmaras Municipais e quem sabe em lugares subalternos no aparelho de estado.
- Que não se pode ser Presidente de Câmara se não se for mentiroso. Afirmou o presidente da Câmara das Caldas o que deu direito a sorrisos boçais do candidato Pedro Passos Coelho e seus acólitos. Para se ser Presidente de um partido tem de se ser mais mentiroso e presumo que não se pode ser 1º Ministro se não se for muito mais mentiroso. Quer dizer que isto é verdade e que toda a gente o sabe. Quer dizer que quando o senhor Coelho chama mentiroso ao Primeiro-Ministro está a constatar um facto que também o atinge a ele e aos seus. Mas pretende estupidamente dar-nos a entender que o Eng. Sócrates é o único. “Coitado do mentiroso, mente uma vez mente sempre…”
- Por último fiquei ainda a saber que se pode insultar um 1º Ministro ou um Presidente da República sempre e em qualquer altura. Mas mesmo que se seja um pulha não se pode por em causa um candidato do PSD nos 6 meses anteriores a uma eleição, sob pena de se ser expulso do partido. Para quem tanto advoga a liberdade de expressão é um achado. E ainda mais vindo de quem vem, o senhor Santana Lopes.

segunda-feira, março 15, 2010

SUICÍDIO
Em grandes parangonas os jornais têm vindo a noticiar o suicídio de um professor numa escola do 2º e 3º Ciclos de Sintra, por alegadamente não suportar a violência psicológica que era exercida sobre ele por alunos do 9º ano de escolaridade.
Muito se tem escrito sobre este tema e muito se vai escrever ainda. Sem que no entanto a montante se procurem as razões profundas para esta avalanche de professores que se queixam de serem vitimas de alunos, encarregados de educação e mesmo de outros colegas.
Na primeira vez que um professor chama um funcionário porque não consegue fazer-se respeitar, ou que pede a vinda de um elemento do Conselho Directivo (Director) à sala de aula, ou quando a abandona porque vê caída por terra a sua autoridade, dizia eu que a primeira vez em que qualquer uma destas causas se manifesta, é quando começa o calvário de um professor que nunca mais terá fim. A partir daqui só mudando de escola ou de região, ou mesmo tentando conseguir uma nova profissão ou actividade.
Recordo de situações em que os professores fragilizados por outras situações eram aconselhados por médicos psiquiatras a irem trabalhar para as escolas, porque o trabalho teria um efeito terapêutico.
Recordo pessoas que eram colocadas em escolas por efeito das suas habilitações académicas mas que no contacto com alunos eram um autêntico desastre. Queixavam-se da impiedade dos alunos sem nunca porem em causa a sua prática pedagógica ou a sua impreparação para a utilização de meios didácticos apropriados àqueles alunos, àquela turma, ou naquele meio.
Atirar professores para as escolas sem passarem por um estágio pedagógico exigente e qualificador foi (é) a primeira das razões para a multiplicação de conflitos nas escolas.
As aulas assistidas são um elemento fundamental para a adequação de um licenciado para a prática pedagógica. Não pode ser só depois de este estar ligado ao sistema que deve ser elemento de avaliação. Deve ser à antes deste ser qualificado como professor que a assistência à prática pedagógica, seguida de uma reflexão critica sobre a matéria observada, pode e deve ser elemento qualificador sobre a eventual entrada de um licenciado no sistema de ensino.
O sentido corporativo que se manifesta entre os professores (como noutras profissões) é outro elemento que permite que pessoas menos preparadas possam ser submetidas a momentos difíceis nas escolas. Porque não se há-de negativar determinada pessoa para a prática docente se é verificável desde logo a sua incapacidade para o exercício da actividade e para a sua incapacidade de resposta para situações de conflito em que se encontre envolvido? Nem todos os que terminam uma licenciatura poderão ser professores a desenvolver uma prática pedagógica adequada. Esses terão de ser recusados, pese embora a solidariedade que nos mereçam enquanto professores.
Existem escolas e escolas. Como existem professores e professores.
Os alunos (as crianças) são impiedosos perante os fracos sejam eles colegas, pais, professores ou funcionários a não ser… A não ser que encontrem razões poderosas para os protegerem. São essas razões e a capacidade para as encontrar que permitem distinguir os que estão preparados para serem professores (ou pais) dos que não estão. E existem formas de ajudar a encontrar essas soluções em estágios adequados e actualizados ao tempo em que vivemos e às novas formas de diálogo em que todos nos podemos encontrar na escola como na comunidade.
Penso que mais que nunca hoje se estabelece um novo e aliciante desafio para os que desejem ser professores. Mas tenho a consciência que para ser professor não basta querer. È preciso ser devidamente qualificado e ser capaz de o ser. Cada vez mais ser professor não é uma profissão para todos.
E quanto menos os políticos quiserem fazer das escolas o palco para as suas exibições, (ou os jornalistas para as suas reportagens mediáticas) melhores escolas e mais qualificadas teremos. Há gente em Portugal com qualificações brilhantes para poderem responder a este desafio. Ao tribunais e a Judiciária, não o serão por certo.

domingo, março 14, 2010

"Os 10 mandamentos" do bom condutor:
1 - Não perca a oportunidade de fazer ultrapassagens em curvas ou lombas da estrada. Nem imagina como isso pode ser emocionante.
2 - Utilize sempre altas velocidades, mesmo que a intensidade do tráfego não o permita. Isto demonstrará que você tem personalidade e força de vontade.
3 - Circule sempre pelo meio da estrada. Uma vez que você tem direito a metade da estrada, escolha a que lhe agrada mais.
4 - Faça corridas com os comboios e tente atravessar as passagens de nível, antes que eles as atinjam. Isto é muito agradável para os maquinistas, visto quebrar a monotonia do trabalho.
5 - Acelere quando entrar numa via principal, procedendo de uma secundária. Você tem o mesmo direito que os outros de circular na principal.
6 - Se o seu carro derrapar, pise o travão a fundo. Assim, as piruetas do carro serão artísticas.
7 - Mude de direcção sem avisar nem tomar precauções. Mostrará que é teso a uma quantidade de nabos.
8 - Se encontrar uma longa fila de carros, mesmo numa estrada estreita, não deixe de ultrapassar. As fotografias dos acidentes em cadeia têm grande aceitação nos jornais.
9 - Mostre aos companheiros de viagem que é destemido executando manobras temerárias e usando altas velocidades. Assim, conseguirá viajar sempre só, sem a maçada dos penduras.
10 - Se, de noite, ficar encandeado com os máximos de um carro em sentido contrário, pague na mesma moeda. Um choque por encandeamento tem a vantagem de que, como não o vemos chegar, não assusta tanto.

sexta-feira, março 12, 2010

O QUE SABEMOS
Os 38 anos que passei pela administração pública (1969/2004) ensinaram-me várias coisas. Vale a pena olhar para trás e pensar nisso num tempo tão difícil como o que vivemos.
Uma das coisas que percebi é que a “cunha” ou a “corrupção”, valido as duas palavras como sinónimo, só é grave e criminosa desde que beneficie os outros, ou os seus filhos, familiares e amigos. Se nos beneficiar a nós ou aos nossos é perfeitamente legítima. Não é mais que utilizar os mesmos meios que os “cães danados” que se utilizam do poder que têm (?) para interferir com a ordem das coisas.
Aprendi também que é em nós que medram as sementes da corrupção. Sempre que a aceitamos quando desenvolvida pelos nossos. Sempre que achamos piada ao “xico-espertismo” de quem a exerce. Etc…etc…
Aprendi que nos nossos maiores amigos pode estar um corrupto em exercício. Que para se governarem ou aos seus não lhes custa nada por em causa a comunidade que servem. Vi gente que eu pensava credível aceitar cargos de responsabilidade para dar de comer gratuitamente a si próprio e aos seus filhos nos refeitórios das instituições que dirigiam.
Vi gente de quem sou amigo e que sempre alardearam convicções no exercício das suas funções, falsificar, mentir, vigarizar subordinados e instituições para arranjarem emprego para os filhos e amigos.
Vi trocar votações favoráveis aos nossos intentos por empregos. Vi ameaçar com ligações aos opositores com votações protestativas se não fossem obtidos os favores almejados.
Vi pares e iguais traírem-se em nome de objectivos de poder mal esclarecidos ou pouco convincentes.
Vi os que elaboram leis serem os autores da descoberta de como se podem tornear para poder validar os nossos actos menos próprios.
Vi escolher para cargos os familiares e amigos em detrimento dos que forem mais competentes.
Mas sei que vale a pena fazer a diferença. Sei que os nossos filhos e os filhos dos nossos filhos podem fazer Portugal cumprir-se. Assim tenhamos a coragem de tomar iniciativas individuais que multiplicando-se se tornem colectivas.
Não acredito em Portugal como nação. Acredito em Portugal como território.

quarta-feira, março 10, 2010

BULLYING (Vulgo: “porrada de criar bicho”)
Ao longo do tempo em que desenvolvi a minha actividade nas muitas escolas por onde passei, quer como aluno quer como professor, assisti à violência exercida pelos alunos mais fortes sobre os mais fracos.
A escola protegia-se dos exageros criando linhas gerais de conduta não-escritas, mas interiorizadas por todos. Professores, funcionários, alunos mais velhos e mais novos sabiam que exceder certos limites era incorrer em falta perante alguém responsável e isso não seria bom para ninguém.
As escolas tinham um funcionamento autonómico em matéria educativa, que fazia os pais acreditarem que os filhos na escola eram defendidos de quem ousasse maltratá-los, fosse de si próprios ou dos outros.
Ser aluno era uma garantia de que existia sempre quem era responsável por tudo quanto acontecia de mal ou de bem.
Nos últimos 15 anos foi destruída a escola através do desmantelamento da autonomia que a pulso tinha sido conquistada. A escola como corpo vivo multicelular desapareceu, dando lugar a um estereótipo de regulamentos, regras e leis que servindo por igual a todas, não serve a nenhuma. No dia em que professores, pais e encarregados de educação, representantes da sociedade civil, aceitaram que os Projectos Educativos e os Regulamentos, tinham de concretizar fórmulas esquemáticas elaboradas nos Gabinetes das Direcções Regionais, permitiram que tudo ficasse sem sentido.
Porque razão uma escola tem de ter Regulamento Interno, foi coisa que nunca percebi. Só existe uma regra numa Escola: - É o bom senso. Tudo se deve subordinar a isto. A regra não tem de ser igual para todos, nem a Escola para funcionar bem terá de ser um exemplo acabado de Democracia Parlamentar. Aliás, se os agentes educativos estivessem atentos, poderiam ver bem ao que conduziu as regras democráticas utilizadas por quem nunca interiorizou a Democracia.
Quando começaram a extrapolar para a Escola a Democracia Parlamentar, começaram a surgir os alunos que agridem professores, alunos que agridem alunos e o que mais à frente se verá.
Já destruíram o País. Agora estão entretidos a destruir as Escolas e o Estado de Direito. Quem for vivo poderá ver se sobra alguma coisa inteira. Bullying para todos se faz favor.

terça-feira, março 09, 2010

O MIGUEL ESTEVES CARDOSO
Habituei-me a ler o que escreve ao longo dos anos. È mordaz sem ser vulgar. Consegue falar de vulgaridades sem se tornar aborrecido. Gosto de o ler. Por vezes, naqueles dias em que nada apetece, ler o que escreve é balsâmico. Permite-me gostar sem pensar em mais nada senão no que gostei.
A certa altura sem saber porquê, desapareceu dos sítios que frequento pela leitura. Até que há pouco tempo o fui encontrar no Público que é um Jornal que deixei de ler à medida que o seu anterior director o foi tornando mais obsessivo. O MEC tem uma crónica diária, pequenina, incisiva, onde faz pontaria. Quando agora compro aquele jornal à 6ª feira (para ler o Ípsilon) lá o revejo.
Foi quando me apercebi que ele pertencia há algum tempo ao clube dos desafiadores no qual também me incluo. O que sei do que li daquilo que ele de vez em quando diz, é que o MEC é um resistente. Tal como eu, também ele tem boas razões para elogiar o SNS. E sinto que os nossos médicos que se têm dedicado à Oncologia, são mestres na Arte de ensinar a viver. Sem mariquices. Encarando a merda do caranguejo de frente.
Aprendi a viver mais intensamente a vida depois de me ter sido diagnosticado cancro e de ter sido operado. Este tempo emprestado que me deram está a ser aproveitado até ao tutano. E ao ver a forma como o MEC encara o que lhe coube na puta da rifa marada que lhe calhou, julgo perceber que também ele está de bem consigo próprio, o que é a melhor forma do combate que está a enfrentar.
Ser lamechas ou coitadinho não faz o género. E o MEC, o meu MEC, é um homem de combate, não havendo lutas desiguais para ele. Ele está sempre em pé de igualdade com os seus “pretensos” inimigos.
Amigo MEC, gostaria de não te ter reencontrado no meu clube. Mas já que cá estás dá umas dicas ao pessoal. Sabe bem ouvir, ler e ver os resistentes. Tudo do melhor para ti.

segunda-feira, março 08, 2010

UMA FLOR
Em 1999 eu estava a trabalhar na Câmara Municipal de Peniche, como vereador a tempo inteiro. Nesse ano o dia 8 de Março, (Dia Internacional da Mulher), calhou a uma 2ª Feira dia de reunião da Câmara Municipal. Na reunião preparatória dessa, em que os elementos do executivo e os assessores políticos mais próximos tomavam decisões sobre diversos assuntos, foi combinado oferecer uma flor a todas as mulheres que trabalhavam na Câmara Municipal.
Assim, na 2ª Feira antes de se iniciar a reunião foi feita uma alusão ao dia e entreguei uma flor às vereadoras do PCP, Dr.ª Margarida Taveira, e outra à vereadora do PSD, Eng.ª Maria João Avelar.Foi quando efectuei a entrega a esta última que recebi com um sorriso um pedido de escusa por a Eng.ª Maria João considerar ultrajante tal prática.
Se bem me lembro das suas palavras da altura, celebrar essa data é um absurdo, pois representa num dia tentar apagar todos os dias em que as mulheres são humilhadas, espezinhadas e tratadas como pessoas inferiores. Enquanto a prática desta celebração existir, significa que a prática quotidiana continua a ser de subalternidade da mulher em relação ao homem. E num dia reafirmamos a intenção de se vir a corrigir essa prática.
Na altura senti-me mal com o que disse a Eng.ª Maria João. Eu era tão bem intencionado no que estava a fazer…
Mas depois parei para olhar e pensar. E cheguei à conclusão de que ela estava certa e eu errado. Este dia 8 de Março, serve para expiar pecados ancestrais e para mais uma vez olhar para o alto e assobiar. É bom para o consumo mas não resolve o que está errado no tratamento da Mulher como par e igual em direitos e deveres.
Recordar este facto que comigo ocorreu serve como expiação pelas minhas atitudes menos dignas.
Aqui deixo o meu cumprimento amigo à Eng.ª Maria João Avelar, sem quaisquer ambiguidades, não para celebrar este dia, mas para o ajudar a desmontar no que ele tem de hipócrita.

domingo, março 07, 2010

NA VÉSPERA DO DIA INTERNACIONAL DA MULHER
A VERIFICAÇÃO DE UM FACTO INDESMENTÍVEL

sábado, março 06, 2010

TODAS AS CARTAS DE AMOR SÃO RIDÍCULAS
Carta de amor de um quimico

Ouro Preto, Zinco de Agosto de 2009

Querida VALÊNCIA:

Sinto que ESTRÔNCIO perdidamente apaixonado por ti. Ao deitar-me, quando DESCÁLCIO meus sapatos, MERCÚRIO no SILÍCIO da noite, reflito e vejo me que sinto SÓDIO. Então, desesperadamente CRÓMIO. Sem ti, VALÊNCIA, a minha vida é um INFERRO. Ao pensar que tudo começou com um ARSÉNIO de mão, CLORO de vergonha. SABISMUTO que te amo, embora não o digas, sei que gostas de um tal HÉLIO e também do HIDROEUGENIO. De ANTIMÓNIO, posso assegurar-lhe que não sou nenhum ÉRBIO e que HABÁRIO para viver. OXIGÉNIO cruel tu tens. VALÊNCIA!
Não PERMETAIS que eu COMETAIS algo ERRÁDIO. Por que me fazer sofrer tanto assim, sabendo que tu és a luz que me ALUMÍNIO? Meu caso e CÉRIO, mas não ÁCIDO razão para um ESCÂNDIO social. Eu soube que a PLATINA contou que te EMBRÓMIO com esse NAMOURO. MANGANÊS, deixa-te disso e não acredita NIQUELA disser, pois sabes que nunca agi de modo ESTANHO contigo. Aliás se não tiveres arranjado outro ANGONIOMENTO, procura um ADVOGADOURO e me METAIS na cadeia.
Lembra-te porem que não me SAIS do pensamento.
ABRÁCIDOS COMOVIDROS deste que muito te ama,
MAGNÉSIO.

sexta-feira, março 05, 2010

NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO OU...
PENICHE NO SEU MELHOR
- Mãe!!! Eu não gosto da escola. Os professores são uma seca. Eu quero ir trabalhar e ganhar dinheiro.
- Oh filha! Mas a Escola blá blá blá...
- Tu não mandas em mim. Se não me deixares sair da escola falo com o pai e já sabes como ele é...
- Mas precisas de aprender a ler e a fazer contas. Para depois teres um ofício que te dê dinheiro...
- Porra mãe eu quero ser cabeleireira. Eu não vou contar cabelos nem ler na cabeça das pessoas. Vou tratar de cabelos e ganhar dinheiro. E mais já falei com uma cabeleireira que me deixa ir para lá aprender.
- Ai meu Deus... Com 14 anos e não sei o que hei-de fazer com esta rapariga. Vai lá para onde queres...

quinta-feira, março 04, 2010

OS NAZAS SÃO...UM ESPANTO E UMA DELÍCIA
Um amigo mandou-me este video do You Tube. O meu blog serve hoje só para o dar a conhecer a quem não o conhece. É um apoio à selecção de todos nós feito à moda nazarena.
Eu penso que vale a pena.
http://www.youtube.com/watch?v=R3HjEjTBtPw

quarta-feira, março 03, 2010

JORNALISMO E JORNALISTAS
“Nunca tive uma agenda política escondida. Ele (Vicente Jorge Silva) é que foi militante e deputado do partido (PS).” JOSÉ MANUEL FERNADES – ex-director do Público, respondendo à acusação do cronista no programa ‘PRÓS E CONTRAS’, RTP1

Respinguei esta tirada da Revista “DOMINGO” do Correio da Manhã. Conheço Vicente Jorge Silva há cerca de 50 anos. Ele foi um criativo que me encheu os dias de esperança quando se lançou na Utopia do jornal cor-de-rosa (Comércio do Funchal). Com ele tive de me tornar um expert a ler nas entrelinhas que sabiam a Liberdade. Assim se torneava naquele tempo a censura. Com ele e com o CF desenvolvi também a minha pequena luta individual. Naquele tempo eu estava no Batalhão de Reconhecimento das Transmissões na Trafaria, que tinha a seu cargo a operacionalização de operadores cripto e de criptólogos do exército. E eu trabalhava no Gabinete de Estudos.
Naquele tempo eu recebia o Jornal do Fundão e o Comércio do Funchal no quartel e lia com o Jorge Peixinho e o Gastão Cruz o Diário de Lisboa e a República. Era a nossa forma de dizermos que estávamos vivos. E o Vicente Jorge Silva e o António Paulouro eram referências de Jornalismo que me ficaram para a vida fora e que me ajudaram nas incursões jornalísticas que tenho desenvolvido ao longo de décadas. Não me recordo de encontrar nem nessa altura nem nos dias difíceis o José Manuel Fernandes. Se existia não era profissional que servisse de motivação. Encontrei depois muitos outros mas nunca o dito cujo JMF.
O VJS lá ia aparecendo aqui e ali, na fundação e afirmação do “Público” que o Fernandes ajudou a destruir como jornal de referência (na minha opinião, claro). O Público passou a ser um jornal com um único objectivo: perseguir e destruir qualquer imagem positiva do Sócrates ou dos seus governos.
O VJS pode ter passado pelo PS. Isso não o impediu de continuar a ser um jornalista com ideias próprias e com opiniões balizadas nos seus valores e critérios. Recordo que outros jornalistas passaram por cargos políticos sem que isso os tenha menorizado. Eu tenho repulsa e desconfio é dos que se dizem isentos. Se calhar se JMF desde sempre tem manifestado perante os leitores do Público as suas tendências políticas eu teria agora muito mais respeito por ele. Exemplifico: Não perco uma intervenção do Marcelo Rebelo de Sousa ou do Luís Delgado na Televisão, mas mudo de canal quando fala JMF.
Não temo os que são alinhados politicamente. Receio profundamente das análises dos que não sei onde estão.

segunda-feira, março 01, 2010

AS CÉGADAS
Quando desenvolvia actividade profissional diária, julgava que não tinha tempo para ler por estar ocupado noutras coisas. Agora que os meus dias são uma sucessão de momentos de relaxe continua sem tempo para ler com a regularidade que desejava. Vem isto a propósito de só ontem ter lido a revista “NS” que acompanhava o DN de 13 de Fevereiro. Nela vinha um artigo sobre a Festa Carnaval à Antiga, de Ana Pago, que tem que ver com o que aqui escrevi sobre o Carnaval deste ano em Peniche e um dos comentários de uma penicheira da diáspora que recordava as “cégadas”.
Nesse artigo da “Notícias Sábado”, vem um conjunto de fotografias de carnavais de Lisboa, Cascais, Torres Vedras e Ovar entre os anos de 1926 e 1962. Uma dessas fotografias tem muito a ver com as gentes de Peniche e aqui a reproduzo com a devida vénia ao DN (trata-se de uma foto do arquivo do jornal) e à autora do artigo: As figuras representadas são um Nazareno e uma Nazarena. Ele o Tóino da Velha com a inseparável concertina. Ela (o Manelinho das Lagostas). Duas figuras ímpares de que os mais velhos se lembram ainda.
Õ Tóino da Velha, meu tio-avô e avô da Gracinda, artesã muito conhecida entre nós, todos os anos no Carnaval saia à rua a tocar com o seu amigo travestido. E corria assim o país. Era realmente o tempo das cégadas. Que se tornam impossível fazer voltar a viver. O que agora mais se aproxima desse tempo é o Grupo “Vai Sempre”. Que exerce o direito a uma critica mordaz, sobre temas locais ou nacionais.
Mas compreende-se a impossibilidade de fazer reviver os grupos dos anos 50 e 60. Peniche era então uma terra pequena em que todos se conheciam. Os namoros não consentidos, as fugas aos pais dos namorados, as traições de casais, eram assunto que assim que se davam extravasavam em toda a vila. O portão de Peniche tinha um veículo de informação que eram os “filhos da T´Elisa”, que garantiam que no dia a seguir a tudo acontecer, a Ribeira Velha já sabia das notícias.
As “cégadas” eram uma consequência directa das conversas de escárnio e mal-dizer que circulavam entre os Bailes da Associação de domingo, os cafés, o mercado, a mercearia, barbeiros e as almofadas das rendas de bilros.
E quando a cegada ia para a rua e parava na Ribeira para as “cantadas”, ou no largo do Jardim, ou nos Bairros, eram umas dezenas de pessoas que se juntavam à volta para ouvir e rir.
Hoje ninguém conhece ninguém. E o que eram usos e costumes morais, perderam o seu significado. E são milhares de pessoas que se juntam para ver os desfiles. Deixaram de existir condições para os grupos espontâneos se formarem, serem ouvidos e terem graça. Não lamento este tempo que já não volta. Embora pense que alguma coisa possa ser feita para caricaturar costumes e atitudes.
Serão os responsáveis do desfile os primeiros a poderem acarinhar esse desafio de forma criativa. E o que se perder em espontaneidade, pode ganhar-se em capacidade de fazer reviver o espírito carnavalesco.
Embora eu não acredite que isso vá acontecer.