segunda-feira, setembro 05, 2011

AS SEITAS
No final do século XX e neste início do século XXI, os meios de comunicação social referem-se muitas vezes a “seitas”, sempre que falam de pequenos grupos religiosos ou políticos, mais ou menos fanáticos.
Pessoalmente estou pouco de acordo com este conceito geral sobre o que são seitas. Para mim seitas são grupos de pessoas que pela sua atitude misto de “conspiração” e de “segredinhos” se tornam diferentes dos outros, não sendo atractiva a sua companhia e mesmo constituindo-se como células que não são acessíveis ao comum dos mortais.
Existem “seitas” nas escolas entre os alunos e às vezes mesmo entre os professores. Todos conhecemos aqueles “grupinhos” (normalmente de meninas) que se juntam entre si soltando risinhos e palavras estereotipadas, calando-se sempre que alguém se aproxima. Ou quando somos adultos e nos tornamos professores, grupos de colegas que se juntam (normalmente sempre à mesma mesa) trocando conversas mais ou menos sussurradas, tornando impossível a sociabilização entre pares e iguais. Isto no caso das escolas.
Se formos para os partidos políticos ainda é pior. Normalmente grupinhos de 3 a 6 pessoas constituem um mundo à parte dentro do próprio partido mesmo para os seus próprios confrades. E quando se aproximam eleições dentro do partido ou a nível municipal ainda se torna tudo mais grave. Parecem conspiradores a tramar todos os que os rodeiam. Se bem que neste caso existe alguma razão para isso e ainda mais quando se trata de pequenos concelhos ou regiões. Quem pertencer aos grupos dirigentes locais tem grande probabilidade de poder alimentar-se das migalhas que se escaparem no banquete dos pequenos reizinhos locais. Prepara-se então tudo conspirativamente para que muito poucos saibam muito, um saiba tudo e muitos saibam nada. Se a história tiver que ver com situações regionais, aí o banquete ainda é mais apetecível pois as prebendas podem ser muito maiores. Desde logo a visibilidade que se ganha, depois a possibilidade de chegar a voos mais altos na partilha do poder o que é um manjar dos deuses.
Mas grave e incompreensível é quando se trata de seitas religiosas ou de grupos dentro de uma qualquer religião. Quem é que se sente atraído por grupos que mais parecem de corpos estranhos à sociedade que outra coisa? Se bem me lembro a proposta era “ide, e fazei discípulos de todos os povos...” Quem se sente atraído pelo oculto e pelo que não se percebe? Grupos religiosos fanáticos, fundamentalistas ou não, rodeiam-se de sinais de morte, de miséria e de fome e espalham o seu ódio pelos quatro cantos da terra. E o que é mais grave é que o fazem em nome do amor ao próximo e à liberdade.
Há minha volta vejo sinais de medo e de angústia. Vejo crianças que já não sabem onde encontrar as âncoras que as ajudem a tornarem-se adultos. Vejo jovens fechados em si mesmos em nome do que se deveriam soltar e libertar para os outros. Vejo adultos a atropelarem-se para chegar primeiro onde houver para dividir as sementes de esperança que restam
Gostaria de perceber que saímos de nós para os outros e que caminhamos de mãos dadas. Que não nos fechamos em casa, mesmo que essa seja a casa do Senhor da nossa Religião (ou de religião nenhuma) e que vimos para a rua transmitir o que temos de melhor, mais voluntarioso e solidário.
Angustia-me que aqueles de entre nós que deveriam ser o símbolo da tolerância e do não-julgamento, se deixem subjugar pela tentação dos julgamentos públicos sem que uma ponta de bondade se note nas suas palavras.
Muitos que esperam de mim outro tipo de “conversa” não irão gostar muito desta. Não me desculpo. Apeteceu-me escrever isto.

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