segunda-feira, setembro 12, 2011

UM PAÍS DE BRANDOS COSTUMES
Todos os que leiam este título sabem a que país me refiro. Há muito que os portugueses são carne para canhão. Comem no toutiço e ensaiam um esgar (entre o sorriso e a dor), que lhes permite encarar o momento seguinte com bonomia e até algum alento.
Foi assim no século XIX com a pelintrice a que os senhores nobres e o clero o submeteram, assim foi na maior parte do século XX durante o consulado do estado novo, como está sendo agora enquanto o espremem até não deitar mais.
Fazemos barulho quando estamos no meio da manada e não corremos o risco de levar nas orelhas. Mas quando somos o alvo directo da atenção dos que têm o poder, encolhemos os ombros, submetemo-nos e vamos à nossa vida com o rabo entre as pernas. Escondemo-nos atrás do anonimato, não assumimos os erros nem as responsabilidades e estamos sempre do lado de quem ganha. Mesmo que nos humilhe e nos espolie do pouco que nos resta.
Vem isto a propósito do momento que vivemos, das festas político-partidárias a que assistimos este fim-de-semana, e das lavagens ao cérebro a que somos submetidos diariamente para aceitarmos a inevitabilidade da miséria em que como povo nos afundamos.
Pedem-nos a nós que tudo aceitamos que não façamos muito barulho, que tenhamos cuidado com os tumultos que possamos promover, pois corremos o risco de ainda levarmos por cima um bom par de palmadas. Quer dizer, o sócras pode ouvir tudo o que lhe quisemos dizer, levou em cima com manifestações que impressionaram pela sua radicalização, mas o fino poder que ora nos atormenta, preciso de sossego para nos roubar.

Tudo isto me faz lembrar uma história deliciosa passada com o meu pai, que merece a pena recordar. Na oficina de Mestre Horácio reparações a amigos e que envolvessem só o bom-senso e as capacidades técnicas dele próprio, inevitavelmente eram gratuitas. Toda a gente sabia disto. Um dia um antigo chefe da PIDE que comandava o destacamento aqui em Peniche sediado, o Chefe Batista, foi à oficina do meu pai durante uma manhã, queixar-se de que os farolins traseiros não acendiam. O meu pai disse-lhe para deixar o carro e lá pelo fim da tarde passar por lá, pois o carro estaria pronto.
Assim aconteceu. O Chefe Batista apareceu por volta das 5 da tarde e perguntou ao meu pai se o carro estava pronto. O meu pai respondeu que sim e o Chefe Batista meteu-se no carro, pô-lo a trabalhar e quando se preparava para arrancar e se ir embora ouviu-se a voz sonora de meu pai, que o fez travar e sair para saber o que estava a acontecer. Foi então que o Mestre Horácio, firme e direito do alto de toda a sua dignidade lhe disse.
“- Então e o pagamento? É que sabe sr. Batista… eu por força das circunstâncias se o senhor ma mandar baixar as calças, eu baixo. Se me mandar tirar as cuecas eu tiro. Se me mandar agachar, eu agacho-me. Mas não lhe besunto o p… para que o sr. o enfie. São 20$00 que foi quanto me custaram as lâmpadas que pus a substituir as que estavam fundidas."
Por aqui ficam definidos os limites do que eu próprio estou disposto a aturar a quem nos governa. Mesmo que seja da PIDE.

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