quarta-feira, setembro 21, 2011

MUDAM OS TEMPOS… OS MAUS FEITIOS CONTINUAM
Na década de 60, quando eu era um puto convencido de que sabia tudo, a minha pria era a do Molhe Leste. Foi aí que eu pela primeira vez vi praticar surf. Já os super tubos existiam só que a praia não dava por esse nome. Nesse tempo vinha jovens cabeludos, descalços e de T-shirts às tiras nas carrinhas WW, que ainda não davam pelo nome de pão de forma, acampavam durante 4/6 meses na zona do molhe leste, normalmente entre Setembro e Abril e durante o dia surfavam e à noite faziam grandes farras no cafezinho que lá havia, bebiam cerveja, comiam umas sandes e fumavam uns charros. Eram jovens australianos, ingleses e do Norte da Europa que aqui marcavam encontro dum ano para o outro.
A nós, penicheiros isolados num país fechado, tudo aquilo fazia confusão. Então não tinham escola? E não trabalhavam? De onde lhes vinha o dinheiro com que viviam durante tanto tempo aqui só a fazer praia e na farra? Esses jovens eram vistos pela sociedade conservadora e “beateira” como fonte de vícios perversos, turistas de pé-descalço, que nada traziam à nossa terra em termos económicos e de desenvolvimento. E no entanto, já nesse tempo nas revistas australianas e americanas da especialidade, Peniche, uma terrinha pouco conhecida num país chamado Portugal, Peniche era um destino fantástico para o surf com umas ondas que não ficavam muito atrás das melhores ondas do Havai.
Um dia destes estava eu a tomar o café da manhã numa pastelaria perto da minha casa, quando vi um jovem empresário da indústria dos chambres que mora ali na zona. Perguntei-lhe pelo negócio. Que estava fraco. O Verão já tinha acabado e não fora nada de especial. Para não terminar a conversa de forma tão deprimente sugeri-lhe que estaria próxima a etapa do mundial do surf e que haveria perspectivas de ainda melhorar qualquer coisa. A isto respondeu-me ele que não. Os surfistas querem é ir para os Hotéis. E eu fiquei a pensar naquilo.
Não há meio da minha terra acertar o passo com o surf. Há 50 anos era gente do pé-descalço. 50 anos depois só querem Hotéis. As nossas dificuldades de entender as coisas são inatas em nós mesmos. Um dia as coisas melhoram.

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