SAUDADES DE PENICHE
Quando somos muito novos, Peniche é a praia e o que à volta do que gravita desta forma de turismo que temos. Gostamos de ir ao parque infantil (?) e a certos sítios a que os nossos pais acham que podemos ir.
Crescemos e a nossa terra começa a sufocar-nos. Achamos que Peniche é uma terra pequenina demais para o nosso tamanho. Uns quantos por quem os pais se sacrificam até ao limite, vão estudar para fora. Para as grandes cidades onde ninguém conhece ninguém. Outros têm de imigrar ou migrar para onde se situam respostas para o emprego de miséria que por aqui vai grassando.
Uns e outros vão percebendo a pouco e pouco que Peniche afinal não é tão pequena como isso. Em todo o lado há penicheiros. Eu já os encontrei nos “bidonvilles” de Paris, em parques de campismo na Suiça, nas esplanadas de Bissau, enfim um pouco por todo o lado.
Depois existem umas quantas coisas que nos perseguem sempre. O cheiro do mar daqui não há em lado mais nenhum do mundo. Quem já sentiu esse odor nas noites de Peniche de Cima, sabe que Peniche lhe vai faltar nas sete partidas do mundo que percorrer. Os passeios à Ribeira Velha nas noites de Verão perseguem-nos nos sonhos sempre.
A “Voz do Mar” esse jornal que todos criticamos quando vivemos em Peniche faz-nos uma falta dos diabos quando estamos longe de tudo e de todos. Quanto mais não seja para saber quem morreu. Em tempos também nos diziam quem tinha casado e nascido mas parece que isso já é menos importante. Outra coisa irresistível para quem está lá fora é saber o resultado do Peniche. Do GDP. Mesmo que não sejamos sócios. Mesmo que o Peniche seja só uma breve recordação. Mas quem vive longe ao saber o resultado do Sporting ou do Benfica, associa sempre o resultado do Peniche. E temos que saber o que aconteceu. Mesmo os que não vão ao futebol.
Alguns tinham a sorte de serem visitados anualmente pelo Padre Bastos (nunca me habituei a tratá-lo por Monsenhor). O senhor prior é nosso (mesmo dos que não são católicos ou crentes) e quando ele aparecia era um pouco de Peniche que vinha com ele. O Padre Bastos era a Igreja de S. Pedro e a Festa da Boa Viagem. Era o Lar de Santa Maria onde todos temos um familiar ou um amigo e o Pavilhão do Stella Maris.
Peniche e tudo o que representa e que nem sempre sabemos o que é vai tornando-se quase uma necessidade física à medida que o tempo vai passando. E quando regressamos e ou do Alto do Veríssimo ou da Serra d’ El-Rei vemos esta terra ao longe entrando pelo mar adentro e espraiando-se na península, cresce dentre de nós uma dor de alegria e de um sentimento de satisfação que só pode perceber quem já viveu esta emoção.
Sabemos então que é inevitável regressar a Peniche. Seja quando for e como for. Quem aqui nasceu sabe que aqui vai regressar sempre. Para o melhor e para o pior. Peniche é uma emoção. E sempre uma saudade.
1 comentário:
Comungo e partilho de grande parte da emoção aqui (bem!) transcrita. Mas, ainda assim, fico sempre com a sensação que a essência de Peniche é indizível...
Resta-nos desfrutá-la avidamente!
Um cúmplice abraço,
Jorge Paulino
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