Num dia qualquer em Abril ou Maio, recebi a informação de que um senhor (e disseram-me o nome) me pretendia falar. Reconheci de imediato o nome da pessoa em questão. Tinha feito a tropa comigo em Mafra, depois tinha ido comigo para a Trafaria para o Quartel de Reconhecimento de Transmissões, onde tirou uma especialidade como eu de Transmissões como eu. Só que a certa altura ele foi para Moçambique e eu fiquei por cá. Todas essas recordações me assaltaram e quando o vi foi uma festa imensa o reencontro. Depois de alguma cavaqueira ele disse-me ao que ia. Era proprietário duma pequena Editora de Manuais Escolares e vinha apresentar-me as suas edições. Ao ler quem era o responsável pela escola da Atouguia, reconheceu o meu nome e considerou a possibilidade de eu lhe dar uma ajuda na boa aceitação dos seus livros. Depois de falarmos um bom bocado, convidou-me para almoçar e lá fomos até ao Restaurante Atlântico que na altura ainda funcionava com os méritos que todos nós lhe reconhecíamos. Foi aí que durante o almoço e com a conversa a intimizar-se que o meu amigo me garantiu os seus livros, dando-me a sua última preciosa indicação que me ficou gravada para o resto da minha vida: “Anjos Costa, garanto-te que de facto os meus livros foram feitos para os professores, para que estes não tenham de perder muito tempo a preparar lições, trabalhos de casa, ou a desenvolver testes. Os professores com estes livros ficam com tempo livre para o que mais lhes agradar” sic. O almoço terminou, (eu paguei porque não queria deixar a ideia ao meu amigo que me vendia por um almoço) e lá fomos com votos de renovados encontros cada um para seu lado. Depois de terminado o prazo para adopção dos manuais na minha escola, foi com alguma ansiedade que fui ver quais tinham sido as opções dos professores, Tirei um peso enorme de cima dos meus ombros quando verifiquei que da editora do meu amigo não tinha sido escolhido qualquer manual. Ele também nunca mais me contactou. Não vendeu manuais e eu perdi um amigo.
Nesta história, verdadeiramente relevante foi o que eu aprendi no almoço daquele dia longínquo na Atouguia. Os manuais escolares não são feitos para os alunos. São feitos para os professores, para não terem que trabalhar muito. Os alunos não se dão bem com os manuais? Não importa desde que os professores os curtam e lhes poupem trabalho. Preparar aulas é uma chatice. Elaborar fichas, uma dor de cabeça. Fazer testes é um desconsolo. Que importa o resto desde que os manuais nos retirem essas tarefas aborrecidas.
E e virmos as notícias dos Jornais, vemos que o que vos relato ainda é um facto e com o apoio do ME. Nas notícias, nem uma única palavra para os alunos.
Governo aprova decreto-lei sobre avaliação dos manuais escolares
O Conselho de Ministros aprovou no dia 10 de Maio o Decreto-Lei que regulamenta a Lei n.º 47/2006, de 28 de Agosto, que define o regime de avaliação, certificação e adopção dos manuais escolares do Ensino Básico e do Ensino Secundário, bem como os princípios e objectivos a que deve obedecer o apoio sócio-educativo relativamente à aquisição e empréstimo de manuais escolares. Com este diploma pretende-se, assim, que seja garantida a conformidade dos manuais escolares com os objectivos e conteúdo dos programas e orientações curriculares, promovendo a elevação do seu nível científico-pedagógico e proporcionando às famílias formas de utilização dos livros menos dispendiosas.
PS: Propositadamente não me referi neste blog, às ofertas de presentes pelas Editoras às Escolas, aos Delegados de Disciplina e aos Professores. Também não me referi à oferta pelas Editoras a professores de comissões nas vendas se forem seus representantes, levando assim a promiscuidade ao seu extremo máximo. Também aqui não ouvi até hoje nenhum Sindicato reprovar tais ligações e chamando assim a atenção para uma quebra de conducta Deontológica a quem se prestar a este negócio sendo professor.
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